domingo, 20 de julho de 2014

O Papel da Diplomacia Portuguesa no Tratado de Tordesilhas. Baquero Moreno. «Durante a crise de 1383 verifica-se que João Gomes Silva está próximo do partido de D. Beatriz, mulher de João I de Castela, na medida em que se junta em Coimbra ao conde Gonçalo, irmão da rainha D. Leonor Teles»

Cortesia de wikipedia

«A acção da diplomacia portuguesa que participa, conjuntamente com a diplomacia castelhano-aragonesa na feitura do tratado de Tordesilhas insere-se num contexto mais amplo que deverá estender-se, pelo menos, até ao tratado de paz celebrado entre Portugal e Castela em 1411. Quando o monarca João I se encontrava na capital de reino, pelo menos desde o início do mês de Agosto desse ano, com uma presença ininterrupta que se estende até ao ano seguinte, celebra-se em Ayton, a 3l de Outubro desse ano, um acordo que põe termo a vinte e sete anos de hostilidades e compromete ambas as partes no sentido de se restaurar um clima de estabilidade.
A embaixada portuguesa encarregada de negociar o acordo de paz era constituída pelo alferes-mor João Gomes Silva, e pelos licenciados Martim Dossem e Fernão Gonçalves Beleágua, e ainda Álvaro Gonçalves Maia, escrivão da câmara do rei João I, a qual colaborou activamente na redacção das cláusulas concordatórias, tendo cabido a assinatura do mesmo, por parte de Castela, aos tutores do rei João II, sua mãe D. Catarina e seu tio Fernando de Antequera.
Embora aos licenciados mencionados coubesse a parte técnica, a chefia da missão diplomática encontrava-se confiada a João Gomes Silva. De quem se tratava? Era filho de Gonçalo Gomes Silva e de D. Leonor Gonçalves, filha de Gonçalo Martins Coutinho. Do seu casamento com D. Margarida Coelho teve numerosa descendência. Era esta constituída por Aires Gomes Silva, regedor da Casa do Cível, alcaide-mor do castelo de Montemor-o-Velho e senhor de Vagos; D. Teresa Silva, mulher de Fernão Eanes Lima, senhor das terras de Valdevez e de Coura e D. Isabel Gomes, mulher de Pedro Gonçalves Malafaia, vedor da fazenda do rei João I. Teve alguns filhos bastardos: Diogo Silva, Pedro Silva e Lopo Silva.
Durante a crise de 1383 verifica-se que João Gomes Silva está próximo do partido de D. Beatriz, mulher de João I de Castela, na medida em que se junta em Coimbra ao conde Gonçalo, irmão da rainha D. Leonor Teles. Contudo, não tardaria muito a seguir o partido do mestre de Avis, recebendo como recompensa, em 23 de Abril de 1384, o lugar de Vagos, com suas rendas, direitos e pertenças. Anos mais tarde, por carta de 26 de Fevereiro de 1412, o rei João I tornou perpétua essa mercê, de juro e herdade. Quando os castelhanos passaram a exercer o cerco terrestre e naval de Lisboa, em Maio de 1384, João Gomes Silva foi um dos que veio em auxílio dos sitiados, participando no socorro dos mesmos com a nau Farinheira. De notar que ao tomar esta atitude este fidalgo deixou seu pai Gonçalo Gomes Silva em Montemor-o-Velho e partiu para a cidade do Porto com a finalidade de se incorporar na esquadra que veio em defesa da capital ameaçada pelos castelhanos.
Logo apos o levantamento do cerco de Lisboa, o mestre de Avis, por carta de 23 de Setembro de 1384, recompensou-o, com transmissão a seus herdeiros, com a doação da renda da comenda de Valhelhas, situada nas terras da ordem de Alcântara, atribuindo-lhe os direitos que a coroa possuía na colheita. O mestre de Avis iniciou o cerco ao castelo de Torres Vedras em 19 de Dezembro de 1384, tendo durado o assédio dessa praça de armas até meados de Fevereiro do ano seguinte. Nessa campanha teve parte activa este fidalgo. Ao lado de seu pai esteve este fidalgo presente nas cortes de Coimbra, celebradas em Abril de 1385, as quais procederam à eleição de João I como rei de Portugal. Embora não exista qualquer documento que o designe como copeiro-mor do novo rei, diz-nos Fernão Lopes que o monarca o nomeou para esse cargo da sua confiança. Subsistem, contudo, algumas dúvidas. Entre os dias 8 e 17 de Maio de 1385 o monarca procede ao cerco do castelo de Guimarães cujo alcaide Aires Gomes Silva era tio paterno de João Gomes Silva e tinha voz por D. Beatriz. No âmbito das operações militares participou este fidalgo, cuja actuação se viu recompensada com a obtenção duma parte dos bens do seu mencionado tio, o qual entretanto devido à idade e ao desgosto morreu no reino passados poucos dias». In Humberto Baquero Moreno, O Papel da Diplomacia Portuguesa no Tratado de Tordesilhas, a Joaquim Veríssimo Serrão os Amigos, Fraternidade e Abnegação, Academia Portuguesa da História, Lisboa, 1999, ISBN 972-624-126-X.

Cortesia da APdaHistória/JDACT