domingo, 14 de outubro de 2018

A Raia Alentejana Medieval e os Pólos de Defesa Militar. Hugo M. P. Calado. «Podemos considerar que a pastorícia é uma actividade importante nos terrenos pouco férteis, e na economia dos reinos em geral»

Cortesia de wikipedia e jdact

Com a devida vénia ao Mestre Hugo Calado

O castelo de noudar e a defesa do património nacional
A Fixação de uma Comunidade Humana. Outros factores
«(…) Nesta situação, o castelo de Noudar serviria como um centro ordenador e controlador de rebanhos, pois a passagem dos mesmos não deveria ser descuidada, havendo mesmo queixas aos monarcas portugueses por parte dos criadores em Portugal (o rei João II recebeu queixas nas cortes de Évora de 1481-82 do excesso de rebanhos castelhanos nos campos do Alentejo, que acabavam com os pastos), podendo haver então um limite à entrada de gados castelhanos em Portugal. O controlo da entrada e saída dos rebanhos de Portugal era muito importante, caso se verificasse algum furto ou que em algum rebanho castelhano fossem animais comprados em Portugal, sem as condições especiais em que um estrangeiro teria a mesma oportunidade de um natural, situação que os Alcaides das Sacas e Contadores de rebanhos precaviam, controlando a entrada e saída de rebanhos do reino.
A transumância fazia da raia um local de importância fulcral para a economia do reino, devido à importância que a actividade ganadeira tinha, não só a nível local, como também a nível nacional, sendo protegida pelos monarcas. A questão das entradas de rebanhos no reino deveria ser controlada, para evitar roubos e negócios duvidosos de venda de gado, e aqui Noudar desenvolveria um papel importante neste controlo. Podemos considerar que a pastorícia é uma actividade importante nos terrenos pouco férteis, e na economia dos reinos em geral, pois é uma alternativa aos terrenos pouco férteis, e é uma actividade que pode ter interferência do poder central ou não. Devido à relativa proximidade geográfica da região raiana portuguesa com a zona mediterrânea, podemos eventualmente dizer que as influências mediterrânicas se fazem sentir nesta zona nos seus mais diversos aspectos, tais como o clima, culturas, manto vegetal, pastoreio, modo de vida, etc. Aqui a produtividade é tudo (ou quase tudo) de acordo com o que a natureza oferece, estando o espaço em estudo incluído numa grande área territorial com o mesmo conjunto de paisagens, com características mediterrâneas.
Não estamos perante uma zona de grande densidade populacional, com uma economia baseada na agricultura mas antes numa região periférica longe do poder central, embora a presença de gados transumantes na zona de Noudar possa indicar a integração do local na dinâmica directa entre poder central e estruturas periféricas, no sentido em que o centro, como entidade essencialmente activa é promotor de uma actividade económica, esta de importância crucial na economia local, pois estamos perante um espaço que está longe do mar e a uma distância considerável de grandes centros urbanos. Noudar está, de facto, durante época islâmica, e posteriormente em época cristã, longe de grandes centros polarizadores do Andaluz, como Beja, Sevilha, Silves ou Niebla, devido ao seu carácter rural. É portanto, uma região pobre em actividades produtivas, no entanto não deixa de ser um espaço de entrada sazonal, onde, nos séculos XV e XVI, havendo três grandes zonas de entrada de gados castelhanos em Portugal, e uma delas era o Alentejo, o campo de Noudar era uma das passagens alentejanas para o reino português, e daí os rebanhos dirigiam-se a Moura, tendo Noudar aqui bastante importância, em termos de fiscalização, e também eventualmente em entrada de produtos em Portugal, vindos com a deslocação de rebanhos, pelo que teria também uma função de fiscalização comercial.
A agricultura é a base da economia mediterrânea e portuguesa, sendo que as boas terras das planícies mediterrânicas cedo atingiram alto valor cultural e forte densidade populacional, o que não é o caso nas planícies que envolvem o castelo de Noudar. No entanto, mais a oriente, o território de Beja, na Idade Média, possuía uma grande extensão de terras argilosas, os chamados barros de Beja, terras que tinham boas condições para a plantação cerealífera. Produziam-se em Beja grandes quantidades de trigo, que poderia ser utilizado para panificação, uma actividade que era dominante nesta zona. Tudo isto contrasta com as terras xistosas e pouco férteis da raia luso-castelhana, onde a agricultura não possuía bons campos para se implantar como actividade produtiva dominante, durante a Idade Média». In Hugo Miguel Pinto Calado, A Raia Alentejana Medieval e os Pólos de Defesa Militar, O Castelo de Noudar e a Defesa do Património Nacional, Tese de Mestrado em História Regional e Local, Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, Departamento de História, 2007.
                                                                                                                      
Cortesia da UL/FL/DHistória/JDACT