terça-feira, 23 de outubro de 2018

As Grandes Sociedades Secretas. David V. Barrett. «Outras religiões de mistério baseavam-se, entre outros Deuses, em Dioniso, Ísis e Osíris, Cibele e Átis, Deméter e Perséfone (os mistérios eleusinos), e Orfeu; este último, o movimento órfico…»

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Entre o Tigre e o Eufrates
«(…) Embora monoteísta, o Zoroastrismo também ensinava o princípio de um poder bom e de um poder mau. Este, o Angra Mainyu, com os seus demónios e o controlo do mundo através do homem, com o seu conhecimento da lei de Deus, consegue desviar-se das trevas para a luz. Será esta, provavelmente, a origem das crenças dualistas dos gnósticos. Os Reis Magos do Evangelho de Mateus e de cada representação da natividade eram zoroastrianos; havia muito comércio entre persas, judeus, gregos e egípcios, sendo a capital síria Antioquia, onde Mateus terá escrito o seu Evangelho, um movimentando porto comercial. Alguns zoroastrianos dos nossos dias são conhecidos como Parses ou Pársis (Persas), sobretudo na Índia, ou como Mazda-yasnianos (que veneram Ahura Mazda).

Mitraísmo
Mitra foi um dos Deuses persas incorporado no Zoroastrismo; era a divindade dos contratos e dos acordos, e estava associada ao Sol. O Mitraísmo foi uma religião popular no Império Romano entre os séculos II e V, sobretudo entre os soldados e os agentes do Império. Enquanto no Zoroastrismo havia alguma igualdade de tratamento entre homens e mulheres, o Mitraísmo era uma religião exclusivamente masculina. Vestígios arqueológicos romanos na Grã-Bretanha mostram que o Mitraísmo era uma religião muito mais disseminada e importante entre os romanos do que o Cristianismo, tendo esta ido beber muito àquela durante o seu desenvolvimento. Mitra era, a um tempo, um Deus do Sol (o termo persa Mihr significa Sol) e um Deus salvador; Plutarco referia-se a ele como sendo o Mediador entre o homem e o Deus supremo. É provável que o dia de louvor a Mitra fosse o domingo; um dos principais festivais realizava-se no solstício de inverno, celebrado a 25 de Dezembro. Existem ainda indícios de que os seguidores de Mitra celebravam uma refeição ritual, embora com pão e água, em vez de vinho.
Os rituais eram realizados em grutas, caves ou templos decorados que para parecerem grutas, representando a gruta cósmica ou universo. Havia sete níveis de iniciação: Corvus (Corvo), Nymphus (Noiva), Miles (Soldado), Leo (Leão), Perses (Persa), Heliodromus (Mensageiro do Sol) e Pater (Pai). Não era invulgar, por exemplo, que um soldado de patente média chegasse a um nível mais elevado de iniciação do que um superior militar. Pouco se sabe acerca dos rituais, salvo que eram realizados em segredo, contando apenas com a presença do iniciado. Julga-se que os novos iniciados teriam de encontrar o caminho através de passagens escuras até chegarem à luz: um simbolismo óbvio. Aparentemente, o ritual também incluía uma representação simbólica da morte e da ressurreição. Nem todos os soldados seguiam o Mitraísmo, mas os que a ele pertenciam partilhavam uma sensação especial de camaradagem no mundo exterior, reconhecendo-se, porventura, através de sinais secretos.
Embora, a nível histórico, possa não haver grandes ligações entre eles, quando as há de todo, existem paralelos óbvios com a estrutura, o secretismo, os rituais e a camaradagem e apoio mútuo exclusivamente masculinos da Maçonaria e outras sociedades iniciáticas posteriores. O Mitraísmo foi apenas uma das várias religiões de mistério nos séculos imediatamente antes e depois de Cristo. Uma religião de mistério era um culto, ou sociedade religioso-mágica, que só revelava os seus segredos, ensinamentos e rituais aos iniciados; o termo mistério tem raízes gregas que significam coisa ou cerimónia secreta e iniciado. A iniciação envolve amiúde a morte e o renascimento simbólicos, marcando esse simbolismo uma presença acentuada nos outros rituais. Os segredos da religião eram ainda revelados progressivamente, através de uma série de iniciações, a cada vez menos pessoas à medida que os iniciados subiam os degraus da carreira espiritual.
Outras religiões de mistério baseavam-se, entre outros Deuses, em Dioniso, Ísis e Osíris, Cibele e Átis, Deméter e Perséfone (os mistérios eleusinos), e Orfeu; este último, o movimento órfico, ensinava que existe uma centelha do divino no fundo da natureza material de cada pessoa». In David V. Barrett, As Grandes Sociedades Secretas, 1997, 2007, Clube do Autor, 2016, ISBN 978-989-724-333-2.

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