segunda-feira, 8 de outubro de 2018

A Raia Alentejana Medieval e os Pólos de Defesa Militar. Hugo M. P. Calado. «Esta zona de fronteira é uma área regional que, além do seu envolvimento político-militar com os reinos de Portugal e Castela durante o período medieval…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Com a devida vénia ao Mestre Hugo Calado

O Castelo de Noudar e a Defesa do Património Nacional
«A dissertação de Mestrado A Raia Alentejana Medieval e os Pólos de Defesa Militar. O Castelo de Noudar e a Defesa do Património Nacional, tem o objectivo geral de estudo da área regional da raia alentejana no Baixo Alentejo, mais concretamente o distrito de Beja e o concelho de Barrancos. É aqui que o castelo de Noudar se insere, instalado numa elevação sobranceira ao rio Ardila, a cerca de 12 quilómetros de Barrancos, a sede de concelho, e numa área territorial situada entre dois cursos de água, o rio já referido e a ribeira da Murtega, que funcionavam, na Idade Média, como obstáculos naturais, dois fossos da natureza, que dificultavam o acesso à estrutura defensiva. A fortaleza de Noudar teve uma ocupação prolongada no tempo, com uma ocupação humana que vem desde a pré-história até ao século XIX, e que em época medieval se viu envolvida nas lutas da Cristandade contra o Islão, e posteriormente nas vicissitudes político-militares entre os reinos de Portugal e Castela. Este castelo foi mesmo mudando de proprietários várias vezes, durante o século XIII. Ao longo do século XX, as publicações e estudos sobre Noudar não abundam, pelo que esta circunstância afectou, sem condicionar, este trabalho. A bibliografia e artigos existentes sobe o castelo é já bastante antiga, mas que mostra que houve uma sensibilidade específica para o assunto, sendo a vir publicadas pequenas referências e mesmo monografias sobre a estrutura defensiva alentejana. A ausência de publicações sobre Noudar não é estranha, pois a situação periférica e quase marginal do castelo (também da vila de Barrancos), colocaram a estrutura numa situação de pouca visibilidade por parte dos investigadores que se debruçaram sobre as temáticas das estruturas fortificadas. Este castelo insere-se, na Idade Média, numa fronteira, primeiro com o Islão, depois com o reino de Castela. Mas que não se enquadra numa linha político-administrativa de separação total e completa de populações que, vivendo junto à fronteira, continuam a comunicar e a interagir entre si, havendo mesmo castelhanos a virem trazer os seus gados a pastar em terras de Noudar, no final do século XV. Existe uma dinâmica populacional interactiva dentro da raia, no Baixo Alentejo, populações que estão distantes do poder central, seja por parte de Portugal ou Castela, e sentem-se distantes de um poder que, durante a primeira dinastia, prefere percorrer o litoral. Se o poder está distante, as populações são mais próximas umas das outras, devido à partilha de vivências e problemas comuns. O poder central português moderno utilizava as populações e suas recordações para lhe dar legitimidade, é isto que acontece no final do século XV, no reinado de João II. A questão da demarcação dos limites do reino é uma imposição do poder central, que recorre às populações para legitimar o domínio desta zona raiana. A estrutura militar em si é um bom ponto de estudo para perceber a utilização do castelo e a sua função defensiva, principalmente depois das inovações construtivas que recebeu após o tratado de Alcanizes. Finda a ocupação muçulmana no reino de Portugal, a ameaça mais próxima vinha do reino de Castela, logo os castelos de fronteira foram inseridos numa política reconstrutiva levada a cabo pelo rei Dinis I. No âmbito patrimonial, o castelo de Noudar insere-se na categoria de Monumento Nacional, como tal, inserido em disposição legal de protecção. Como estrutura e património cultural, merece um desenvolvimento na sua área de instalação, para que, o que é considerado como um bem cultural que a todos pertence, não só a posse mas também a responsabilidade de protecção, para que os vindouros possam usufruir de algo que os antigos deixaram como herança. Noudar chegou-nos como uma escolha, os anteriores portugueses, a quem coube a responsabilidade de conservação do castelo, escolheram que esta estrutura deveria permanecer, e não ser destruída porque já não tinha utilidade prática». In Resumo

«Esta zona de fronteira é uma área regional que, além do seu envolvimento político-militar com os reinos de Portugal e Castela durante o período medieval, tem populações que se distinguem dos restantes habitantes do reino, pois as suas vivências são diferentes, onde o poder central quer alargar o seu poder tentacular, mas encontra dificuldades, devido à lenta comunicação e também ao facto de que, na primeira dinastia, os monarcas preferirem deambular pela zona litoral. A existência de habitantes castelhanos no século XV em Barrancos mostra que, apesar da definição de fronteiras do final da centúria de duzentos, havia uma mobilidade de pessoas e bens pela fronteira alentejana, não havia impedimentos de maior para a passagem em direcção a Portugal». In Hugo Miguel Pinto Calado, A Raia Alentejana Medieval e os Pólos de Defesa Militar, O Castelo de Noudar e a Defesa do Património Nacional, Tese de Mestrado em História Regional e Local, Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, Departamento de História, 2007.

Cortesia da UL/FL/DHistória/JDACT