sábado, 6 de outubro de 2018

Estudos sobre a Ordem de Avis. Séculos XII-XV. Maria Cristina Cunha. «… trabalho, e ao mesmo tempo, que servisse de proposta metodológica a aplicar num estudo mais global sobre a Ordem Militar de S. Bento de Avis»

jdact

A mobilidade interna na Ordem de Avis (séc. XII-XIV)
«(…) Relativamente à concessão de comendas, que obrigava naturalmente ao afastamento de alguns freires do convento principal, várias foram as questões que se nos colocaram. De facto, a existência desde pelo menos 1222 de comendadores na organização interna da Ordem de Avis levou-nos a questionar sobre os critérios que presidiam à distribuição pelo Mestre das diferentes comendas pelos cavaleiros. Dito por outras palavras, sabendo que os comendadores não podiam ser noviços, que peso teria a ancienitas na atribuição de cada um destes núcleos patrimoniais? A documentação conservada, se não nos permite afirmar que existia um cursus honorum, deixa pelo menos claro que umas comendas eram mais importantes que outras, não só pela sua rentabilidade efectiva, mas também pela sua localização. Se as distâncias entre o convento principal e as diferentes comendas não são tão marcadas como acontece nas Ordens Militares com sede na Palestina, em termos de Ordem nacional, podemos considerar que tanto o Norte do país como o extremo Sul podiam corresponder a zonas afastadas do centro de decisão da milícia. Por outro lado, até que ponto o local de origem dos próprios comendadores condicionaria a entrega de uma determinada zona, isto é, seriam as comendas mais afastadas do núcleo central desejadas ou sinónimo de um afastamento que se pretendia? Finalmente, pressupondo que os cavaleiros de que temos notícia não viajariam sozinhos, mas com um maior ou menor séquito de serventes que também pertenceriam à Ordem, a aproximação que fizemos à mobilidade dos freires de Avis apresenta-se ainda mais lacunar do que desejaríamos: de todos os movimentos, apenas nos pudemos aperceber de alguns, e mesmo estes, apenas protagonizados pelos cavaleiros mais importantes ou por aqueles que uma ou outra circunstância fez plasmar nos pergaminhos a sua mobilidade.

A Comenda de Oriz da Ordem de Avis
O presente estudo constitui o primeiro resultado parcelar do Seminário de Propriedade em Portugal nos finais da Idade Média, que decorreu na Faculdade de Letras do Porto no ano lectivo de 1986-87. Não se tratando da dissertação final, que terá necessariamente outra amplitude e desenvolvimento, pareceu-nos que seria conveniente abordar apenas um assunto pontual, mas que pudesse vir a ser integrado naquele trabalho, e ao mesmo tempo, que servisse de proposta metodológica a aplicar num estudo mais global sobre a Ordem Militar de S. Bento de Avis.
A escolha recaiu sobre a comenda de Oriz, a única que a referida milícia possuía a Norte do Douro, não só para corresponder ao pedido do orientador do Seminário, Doutor José Marques, de que os relatórios dos vários participantes, embora tratando da propriedade de diferentes Instituições, incidissem, quanto possível, sobre a região do Entre-Douro e Minho, mas também porque se considerou importante revelar e divulgar a estrutura fundiária, bem como um conjunto de elementos relativos a esta comenda, praticamente desconhecida. Trata-se, portanto, de uma comenda que tinha a sua casa-mãe perto de Braga, apesar do seu património se encontrar bastante disperso, chegando mesmo à actual província de Trás-os-Montes e Alto Douro. Se este carácter da propriedade fundiária não é inédito no conjunto da Ordem de Avis há, contudo, uma certa originalidade no facto de serem nulas as referências a bens situados na localidade que funciona como cabeça desta comenda: Oriz. Com efeito, e embora o documento mais antigo de que dispomos, a Bula de confirmação da Ordem de 1187, as refira expressamente, desconhecemos, tanto para esta época como para outras posteriores, propriedades sitas nessa localidade, cuja determinação exacta nos colocou algumas dificuldades. Este foi, aliás, um dos maiores problemas encontrados na elaboração deste trabalho, pois, tendo identificado duas freguesias chamadas Oriz, mas os oragos de S. Miguel e Santa Marinha no actual concelho de Vila Verde, não sabíamos qual delas seria a cabeça da comenda. Inclinamo-nos para Sta. Marinha de Oriz, já que ainda hoje aí existe uma torre que mais mostra ser feita para morada que para Castello, que poderá ser a abundantemente referenciada na documentação como Casa de Oriz. A abordagem à propriedade de Oriz, mais do que um ponto de chegada, pretende ser um ponto de partida para novas investigações». In Maria Cristina A. Cunha, Estudos sobre a Ordem de Avis, séculos XII-XV, Faculdade de Letras, Biblioteca Digital, Porto, 2009.

Cortesia da Faculdade de Letras do Porto/JDACT