segunda-feira, 8 de outubro de 2018

A Raia Alentejana Medieval e os Pólos de Defesa Militar. Hugo M. P. Calado. «O local é parte integrante num conjunto patrimonial que pertence aos portugueses, e como tal deve ser protegido. O levantamento de questões patrimoniais e culturais…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Com a devida vénia ao Mestre Hugo Calado

O Castelo de Noudar e a Defesa do Património Nacional
«(…) Estamos a estudar um castelo, uma estrutura defensiva com um longo período de ocupação humana, que, durante a Idade Média e igualmente em épocas posteriores, se viu envolvida em diversas contendas militares e políticas, que resultaram na posse do castelo por parte de vários proprietários, entre portugueses e castelhanos, nomeadamente indivíduos que talvez possam ser considerados aventureiros, como é o caso de Martim Sepúlveda, que, ao serviço de Castela, atacou Noudar e capturou o castelo, ficando como alcaide. Posteriormente, passou ao lado português, vendendo o castelo ao nosso monarca Afonso V, que despoletou o conflito peninsular entre 1475-
1479.
Por aqui se pode notar que esta região está longe do poder que exerce (ou quer exercer) a sua influência e autoridade sobre a mesma, ao ponto de deixar manter ocupado um castelo que era seu nas mãos de um privado, que obtém poder para fazer uma transacção com a coroa. O contexto geográfico do local permite, numa zona de separação entre dois estados que tiveram confrontações militares, que o castelo seja envolvido numa primeira confrontação com exércitos inimigos, tendo a fortaleza sido dotada de estruturas defensivas no reinado de Dinis I, adaptadas a novos conceitos estratégicos, como o de defesa activa, que permite uma possibilidade mais eficaz de resistência a um cerco, como também a possibilidade de contra-ataque.
É, no final do século XIII, uma fortaleza de fronteira, numa altura em que o muçulmano já não ocupava Portugal, sendo agora outro o adversário, o reino de Castela a Oriente, por isso a defesa face a esta ameaça deve ser prevenida com reforços construtivos nos castelos portugueses espalhados por toda a fronteira portuguesa, a defesa do reino face a um eventual inimigo externo. Noudar não foi excepção.
É uma estrutura que se encontra a doze quilómetros da actual sede de concelho, e cujo acesso se faz através de um caminho em mau estado para a deslocação por automóvel. A visita ao castelo é, então, problemática, pela situação periférica do mesmo, do concelho onde se insere, da falta de informação, e também do possivelmente do pouco interesse do público por visitas a locais deste tipo. Noudar é um local que tem possibilidades de ser mais rentabilizado do que é, através de diversas actividades de aproveitamento do local, que podem ser utilizadas para atrair mais visitantes, o sítio tem uma boa paisagem para se visitar, podendo-se aliar o conhecimento histórico-cultural da fortaleza com uma apreciação natural do território envolvente. A dinamização do castelo pode (e deve) ser feita através de um esforço conjunto de cidadãos e autoridades, pois não se pode atribuir a responsabilidade de protecção do património apenas a quem tem o poder de decisão, pois o cidadão comum deve ter sempre uma palavra a dizer sobre algo que lhe pertence também, o património é de todos nós, e não apenas de alguns. Se os protestos por privatizações de eventuais bens patrimoniais se fazem sentir, é porque a consciência de sensibilidade patrimonial está a desenvolver-se no nosso país, o cidadão toma consciência que determinado objecto ou imóvel tem um passado que lhe é comum e a todos os integrantes do seu país, e como tal, devem ser protegidos.
Noudar tem uma história particular que está envolvida na história geral portuguesa, é um património imóvel abandonado pelo desenvolvimento territorial português, pela utilização do local como posto militar avançado de defesa do nosso território, e também como local de habitação. O local é parte integrante num conjunto patrimonial que pertence aos portugueses, e como tal deve ser protegido. O levantamento de questões patrimoniais e culturais foi, nesta dissertação, um dos principais objectivos. Quisemos dar um contributo para o estudo de uma fortaleza que não tem sido alvo de mais estudos em diversas áreas científicas. Pretendemos chamar a atenção para as potencialidades de um maior desenvolvimento local, através de uma rentabilização e gestão deste castelo. É necessário e urgente a protecção e conservação do castelo de Noudar, para que ele possa ser deixado como legado daqueles que anteriormente o utilizaram e o deixaram continuar a sua caminhada no tempo». In Hugo Miguel Pinto Calado, A Raia Alentejana Medieval e os Pólos de Defesa Militar, O Castelo de Noudar e a Defesa do Património Nacional, Tese de Mestrado em História Regional e Local, Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, Departamento de História, 2007.

Cortesia da UL/FL/DHistória/JDACT