segunda-feira, 8 de outubro de 2018

A Raia Alentejana Medieval e os Pólos de Defesa Militar. Hugo M. P. Calado. «Os solos de Noudar e suas imediações são caracterizados como Litossolos (ou esqueléticos) de xistos ou grauvaques…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Com a devida vénia ao Mestre Hugo Calado

O castelo de noudar e a defesa do património nacional
O espaço de Noudar. Enquadramento geográfico e geológico
«(…) A antiga povoação de Noudar e o seu castelo situam-se no local da Herdade da Coitadinha, no Baixo Alentejo, distrito de Beja, concelho de Barrancos, localidade da qual dista cerca de doze quilómetros em direcção a noroeste. O local é apontado como denominação antiga do concelho de Barrancos. O sítio da antiga vila é definido por um recinto de muralha de cerca de 12 800 m2 de área, situado numa elevação de cerca de 265 metros acima do nível do mar, entre o Rio Ardila e a Ribeira da Murtega. A hidrologia, num sítio onde a terra não é propícia à agricultura, como veremos mais adiante, tem aqui um papel importante, pois toda a região é muito seca.
O Ardila (ou Ardilla), nasce em Espanha, percorrendo cerca de sessenta quilómetros de percurso em Portugal, servindo de fronteira durante aproximadamente quinze. É na sua passagem por Noudar que recebe, na sua margem esquerda, a ribeira da Murtega, passando cerca de quatro quilómetros ao norte de Moura, indo desaguar no Guadiana. A ribeira da Murtega nasce junto à fronteira espanhola e atravessa o concelho de Barrancos. Há referências antigas à existência de peixe nestes dois cursos de água, o que poderia ser um bom auxílio para a economia local.
No que concerne ao seu substrato geológico, não existindo carta geológica publicada para a zona de Noudar e seus arredores, temos que trabalhar por aproximação a partir das cartas geológicas de Portugal 1/200.000 (Barrancos) e 1/50.000-44B (Barrancos). Em toda a área de Barrancos, existe uma grande concentração de xistos de várias cores (cinzentos, esverdeados e violetas), a chamada Formação de Barrancos, uma formação geológica que cobre uma grande parte do solo envolvente desta localidade. O espaço de Noudar é, pois, um local de ambiente geológico xistoso. O sítio é referido como estando localizado numa zona onde existe um complexo xisto-grauváquico.

O castelo de noudar e a defesa do património nacional
Os solos e sua capacidade de utilização
Os solos de Noudar e suas imediações são caracterizados como Litossolos (ou esqueléticos) de xistos ou grauvaques, os tipos de solos predominantes entre a Ribeira da Murtega e o Rio Ardila. A Nordeste, até ao Rio Ardila e à fronteira definida por este curso de água, existem duas pequenas faixas de solos mediterrâneos vermelhos ou amarelos, estes já diferentes e com mais capacidades, as quais serão referidas mais à frente. O território entre a confluência da Ribeira da Murtega e o Rio Ardila, até mais a oriente, à fronteira com Espanha, possui um solo maioritariamente de características xistosas.
Mais a Noroeste, junto à fronteira luso-espanhola, predominam ainda os solos de xisto, pelo que podemos constatar que a região da raia alentejana é uma zona onde a formação geológica dos xistos tem predominância. Os xistos são rochas escuras, bastante compactas, e de pouca permeabilidade, sendo o espaço de Noudar bastante seco. Estes solos xistosos, da perspectiva do seu uso e capacidade produtiva, são considerados como solos de classe E, não sendo susceptíveis de utilização agrícola, tendo limitações severas para pastagem e exploração florestal, podendo servir apenas para vegetação natural. A espessura reduzida e a elevada salinidade ou alcalinidade podem ser causas para condicionamentos no uso dos terrenos, onde só a vegetação natural consegue manter-se. A vegetação como a esteva, ligada às terras pobres, onde as formações xistosas estão em maioria, é uma dessas presenças vegetais nas planícies do sul de Portugal.
Na zona de Mourão, são igualmente os solos de classe E que predominam. Junto ao rio Ardila, existem já terras passíveis de cultivo, sendo considerados como solos de classe B, com capacidade de uso agrícola elevado, riscos de erosão moderados e com possibilidades de utilização agrícola intensiva, entre outras utilizações, como a pastagem permanente, que é pouco comum no Sul do país, mas estas duas faixas de terreno junto ao Ardila são férteis. Existindo este tipo de terras tão junto de dois cursos de água, podem sofrer inundações em períodos de maior pluviosidade, o que afecta beneficamente as culturas, embora também exista a possibilidade de serem afectados por deficiência de água em períodos mais secos». In Hugo Miguel Pinto Calado, A Raia Alentejana Medieval e os Pólos de Defesa Militar, O Castelo de Noudar e a Defesa do Património Nacional, Tese de Mestrado em História Regional e Local, Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, Departamento de História, 2007.

Cortesia da UL/FL/DHistória/JDACT