segunda-feira, 8 de outubro de 2018

A Raia Alentejana Medieval e os Pólos de Defesa Militar. Hugo M. P. Calado. «Ali estamos perante uma paisagem pouco susceptível de transformação humana a longo prazo, devido à fraca qualidade do solo…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Com a devida vénia ao Mestre Hugo Calado

O castelo de noudar e a defesa do património nacional
As Culturas
«(…) As culturas possíveis são as arvenses de sequeiro, folhosas diversas e montado de azinho, sendo que este último é uma cultura que domina o território entre a confluência do Ardila com a Ribeira da Murtega, até à fronteira espanhola. Passando a ribeira da Murtega para Sul, o montado de azinho domina as culturas, existindo uma parte inculta na curvatura da mesma ribeira, junto da elevação onde se ergue o castelo. No restante território entre a confluência dos dois cursos de água e a fronteira luso-espanhola, dominam os montados de azinho, embora as culturas arvenses de sequeiro e os terrenos incultos também existam, mas em menor número. É uma paisagem que sofreu algumas alterações durante os últimos noventa anos, devido à presença humana na zona da raia, o que levou a importantes alterações da paisagem. Observando a região raiana durante um determinado período de tempo (1892-1982), e particularmente a zona do castelo de Noudar, vemos que no final do século XIX, a zona tinha características pastoris, com terrenos de mato ou charnecas, e mais a Sul, uma grande extensão de montado de azinho. O sobreiro está presente, embora em menor quantidade.
Mais a oriente, na zona de Moura, domina o montado de azinho, recrudescendo as pastagens e aumentando o número de culturas arvenses de sequeiro. Em 1962, na zona entre o rio Ardila e a ribeira da Murtega, dominam de novo os montados de azinho, incluindo uma pequena porção de arvenses de sequeiro, mas é a azinheira a cultura dominante.
No entanto, entre esta data e o ano de 1982, na região Baixo Alentejana, o azinhal com cultura arvense em sobcoberto foi arrancado, sofrendo o azinho, como consequência, uma redução, não só isolado, mas em associação com outras espécies. O panorama de culturas na zona de Noudar mantém-se durante vinte anos sem alterações significativas.
As culturas arvenses de sequeiro também estiveram presentes entre este último período de vinte anos, cujas plantações aumentaram no Baixo Alentejo. Entre 1892 e 1982, há mais desaparecimento de mato, redução das pastagens e é a azinheira que predomina, embora tivesse sofrido uma redução, convivendo com a cultura do zambujeiro. O montado de sobro aumenta, e a área de azinhal associado a outras espécies foi reduzida. O olival tem também um crescimento considerável, embora a área de olival novo tenha recrudescido nos últimos tempos. Toda esta série de transformações agrícolas nesta região do Baixo Alentejo, durante noventa anos, deveu-se a uma tentativa de melhor aproveitamento dos solos, o que veio a equivaler a uma redução das pastagens, porque a maior parte desta área era constituída por terrenos em pousio, que posteriormente passaram a ser terrenos com culturas arvenses, culturas estas que passaram a ocupar mais de um terço da área cartografada.
Na maioria da zona Baixo Alentejana, neste período cronológico, houve um intenso desaparecimento de matos, maior redução das pastagens, e aumento da cultura arvense, houve, ainda, uma redução do azinhal, bem como das suas associações a oliveiras e sobreiros, aparecendo agora esta cultura com uma maior associação aos zambujeiros. O montado de sobro isolado e associado com azinheiras também aumenta, assim como o eucaliptal, além de um aumento significativo de albufeiras, que já se notava desde 1962, também devido ao aumento de culturas regadas e hortas. No entanto, é de salientar a pouca transformação da paisagem agrícola da zona do castelo de Noudar durante quase um século. Ali estamos perante uma paisagem pouco susceptível de transformação humana a longo prazo, devido à fraca qualidade do solo, às condições climatéricas não favoráveis para uma boa exploração agrícola, actividade económica que nunca foi predominante na zona, às quais se junta um baixo índice demográfico, e pelo facto que a principal fonte de rendimento da zona de Noudar ser a pastorícia. Tudo isto levou à desertificação do sítio do sítio e ao afastamento do mesmo de Barrancos». In Hugo Miguel Pinto Calado, A Raia Alentejana Medieval e os Pólos de Defesa Militar, O Castelo de Noudar e a Defesa do Património Nacional, Tese de Mestrado em História Regional e Local, Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, Departamento de História, 2007.

Cortesia da UL/FL/DHistória/JDACT