sexta-feira, 7 de junho de 2019

A Rainha Liberdade. A Guerra das Coroas. Christian Jacq. «O olhar assassino de Apopis dissipou as hesitações do oficial superior, que saltou para o labirinto e caiu sobre os joelhos e as mãos. À primeira vista, o lugar nada tinha de perigoso»

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…) O seu armamento é arcaico, mas esses egípcios batem-se como feras! Felizmente, os nossos carros e os nossos cavalos dão-nos uma enorme superioridade. E depois, Majestade, não deveis esquecer que matámos o seu chefe, Seken. Unicamente graças ao espião que gangrena o inimigo, pensou Apopis, cujo olhar torvo permanecia indecifrável. Onde está o cadáver de Seken? Os egípcios conseguiram recuperá-lo, Majestade. É pena. De boa vontade o teria pendurado na grande torre da cidadela. A Rainha Ah-hotep ficou ilesa? Infelizmente, sim, mas é apenas uma mulher. Depois da morte do marido, só pensará em render-se. Os restos do exército egípcio não tardarão a dispersar-se e destruí-los-emos.
Ah, eis a distracção!, exclamou o Imperador. Um enorme touro de combate, olhos furiosos e cascos agressivos, entrou na arena para onde foi lançado um homem nu e sem armas.

O general empalideceu. O infeliz era o seu adjunto directo, que se batera corajosamente em Cusae. O jogo é tão simples como divertido explicou o Imperador. O touro carrega sobre o seu adversário, cuja única hipótese é agarrar nos chifres e realizar um salto perigoso por cima do cachaço do monstro. Segundo o pintor cretense Minos, que decora o nosso palácio, é um desporto muito em voga no seu país. Graças a ele, as minhas pinturas são mais bonitas do que as de Cnossos. Não és da mesma opinião? Oh, sim, Majestade! Repara... Aquele touro é um verdadeiro mastodonte e tem mau carácter. De facto, o monstro não tardou a precipitar-se sobre a sua vítima, que cometeu o erro de tentar fugir voltando-lhe as costas. Os chifres cravaram-se nos rins do oficial hicso. O touro projectou o moribundo no ar, espezinhou-o e espetou-lhe os chifres uma segunda vez antes de soprar. Apopis fez uma careta de desagrado.
Aquele incapaz foi tão decepcionante na arena como no combate afirmou. Um cobarde... Eis o que ele era. Mas a responsabilidade das nossas derrotas não é da responsabilidade do seu superior? O general suava em grossas bagas. Ninguém teria podido fazer melhor, Majestade, garanto-vos, eu... És um imbecil, general. Em primeiro lugar, porque não soubeste prever esse ataque; depois, porque os teus soldados foram vencidos em vários locais do território egípcio e não se comportaram como verdadeiros hicsos; finalmente, porque acreditas que o adversário está vencido. Levanta-te. Tetanizado, o general obedeceu. O Imperador tirou da bainha a adaga com castão de ouro que nunca o abandonava. Desce para o labirinto ou corto-te a goela. É a tua única hipótese de obteres o meu perdão.
O olhar assassino de Apopis dissipou as hesitações do oficial superior, que saltou para o labirinto e caiu sobre os joelhos e as mãos. À primeira vista, o lugar nada tinha de perigoso. Era composto por ziguezagues marcados por paliçadas, por vezes cobertas de verdura. Era impossível perder-se: um único caminho, tortuoso, conduzia à saída. Por altura da primeira paliçada, uma mancha de sangue chamou a atenção do general. Sem reflectir demasiado, decidiu saltar, como se franqueasse um obstáculo invisível. Foi a sua sorte, pois duas lâminas saltaram de cada lado, roçando-lhe as plantas dos pés. O Imperador apreciou a façanha. Desde que melhorara muito os diversos dispositivos do labirinto, poucos candidatos ultrapassavam aquela primeira etapa. O general comportou-se da mesma maneira ao sair do segundo ziguezague e foi esse o seu erro. Quando caiu no chão, este fugiu-lhe debaixo dos pés e precipitou-se num lago onde dormitava um crocodilo esfomeado. Os gritos do hicso não perturbaram nem o animal nem o Imperador, a quem um servidor se apressou a trazer uma taça de bronze para lavar os dedos. Enquanto os maxilares do crocodilo estalavam e tornavam a estalar, Apopis lavava as mãos». In Christian Jacq, A Rainha Liberdade, A Guerra das Coroas, ISBN 978-852-861-216-5, Bertrand Editora, 2006, ISBN 978-972-251-281-7.

Cortesia de BEditora/JDACT