quinta-feira, 13 de junho de 2019

Tópicos para a História da Civilização. Ideias no Gharb al-Ândalus. António B. Coelho. «O Gharb al-Ândalus não constituiu uma unidade acabada e homogénea no todo da civilização islâmica peninsular…»

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Filósofos Orientais
«(…) Esta, uma das razões da pobreza das nossas comunidades onde as mulheres chegam a duplicar em número os homens sem contribuírem para as actividades necessárias. Ibn al-Arabi, Abu Abd Allah Muhammad b. Ali b. Muhammad b. Al-Arabi al-Hatimi Al-Tai (Murcia 1165-Damasco 1240). Um dos mais destacados representantes dos sufis. Estudou em Sevilha e foram seus mestres alguns sufis do Gharb al-Ândalus como Al-Oriani de Loulé e Abu Imran al-Mertuli, o de Mértola. A fim de aprofundar a sua experiência mística viajou para Túnis e daí para Meca, Bagdad, Konia na Anatólia até se fixar em Damasco onde decorreu o resto dos seus dias.
Atribuem-lhe cerca de 300 obras poéticas e religiosas, na principal das quais, As Iluminações da Meca (al-Futuhat al-Makkiyya), dedica 560 capítulos ao estudo das manifestações do conhecimento místico. Noutra obra, As Conexões da Sabedoria (Fusus al-Hikam), considera que, de Adão a Maomé, os profetas reflectem a revelação divina e que as suas mensagens assumem diferente significado consoante a pessoa que a recebe. Mas, no essencial, considera a razão humana extremamente limitada. No livro Epístola de Santidade, enviada em 1203 de Meca a um seu amigo de Tunes, fala dos vícios do sufismo oriental e principalmente do ensino e da influência que recebeu de cerca de cinquenta mestres e companheiros do Andaluz, entre eles alguns sufis nascidos em território português.

Poetas Santões e Filósofos do Ocidente do Ocidente
O Gharb al-Ândalus não constituiu uma unidade acabada e homogénea no todo da civilização islâmica peninsular, no entanto nele se radicaram as bases e as guarnições militares da chamada Fronteira Inferior; nele se definiram espaços de rebelião contra o poder central dos emires; nele se desenharam os reinos de Badajoz e de Sevilha e se definiram algumas cidades-estado. Sevilha integrava-se no Gharb al-Ândalus. No século XI foi a capital do reino dos abádidas, que se estendeu de Córdova ao Algarve e ao sul do Alentejo. Durante o domínio almorávida e almóada tornou-se a capital do Andaluz. Se tivermos em conta o papel cultural de Sevilha e a sua inserção geográfica e política, podemos ligar ao Gharb al-Ândalus uma parte substancial dos pensadores islâmicos peninsulares. Mas não vamos partir o território do Andaluz a régua e esquadro. A história que nunca definiu completamente o Gharb, acabou mais tarde por desintegrar o ocidente do ocidente. Assim, neste último ponto, consideraremos somente os literatos e pensadores originários do actual território português. Como dissemos, Silves, Santarém, Beja, Faro, Évora, Lisboa podem orgulhar-se dos seus homens de cultura, das suas escolas e de ousarem brilhar durante algum tempo como estrelas secundárias integradas no todo peninsular. Por outro lado, este Islão hispânico pulsava em sintonia, certamente desigual, com todo o mundo islâmico, em particular com os grandes centros orientais. O sunismo medinense chegou bastante cedo a Córdova. Mas a filosofia, olhada com desconfiança ou perseguida por alfaquis e ulemas, pulsava com atraso. Segundo Miguel Cruz Hernández, a primeira citação fiável de Al-Kindí (século IX) cabe a Ibn Hazm (século X) e a de Al-Farabí (primeira metade do século X) a Ibn al-Sid (segunda metade do século XI e princípios do século XII), precisamente dois filósofos originários do Gharb al-Ândalus». In António Borges Coelho, Tópicos para a História da Civilização e das Ideias no Gharb al-Ândalus, Instituto Camões, Colecção Lazúli, 1999, IAG-Artes Gráficas, ISBN 972-566-205-9.

Cortesia de ICamões/JDACT