terça-feira, 11 de junho de 2019

O Segredo do Anel. Kathleen McGowan. «Vamos, encorajou. Levantem a mão e repitam o que eu disser. Os estudantes levantaram a mão, esperando pela deixa. Juro solenemente, como um estudante sério de história…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Los Angeles. Outubro de 2004
«(…) Vamos começar do alto. Maria Antonieta nunca disse: se eles não têm pão, que comam brioche. Lucrécia Bórgia nunca envenenou ninguém. E Maria I, da Escócia, não era uma prostituta assassina. Ao repararmos esses erros, damos o primeiro passo para restituir às mulheres o seu lugar apropriado e respeitável na história..., um lugar que foi usurpado por gerações de historiadores com uma agenda política. Maureen fez uma pausa, enquanto murmúrios de aprovação espalhavam-se pela plateia de estudantes. Falar para uma nova turma era quase como uma noite de estreia no teatro. O sucesso do desempenho inicial determinava o impacto a longo prazo de todo o curso. Ao longo das próximas semanas, vamos examinar as vidas de algumas das mulheres mais infames na história e na lenda. Mulheres com histórias que deixaram uma marca indelével na evolução da sociedade e do pensamento moderno; mulheres que foram dramaticamente incompreendidas e mal retratadas pelas pessoas que estabeleceram a história do mundo ocidental, ao registarem as suas opiniões no papel.
Maureen estava concentrada e relutante em parar para perguntas tão cedo, mas um jovem estudante acenava com a mão da primeira fila desde que ela começara a falar. Parecia muito ansioso; afora isso, porém, não havia nada de extraordinário na sua aparência. Amigo ou inimigo? Admirador ou fundamentalista? Havia sempre esse risco. Maureen deu-lhe a palavra, sabendo que ele distrairia a sua atenção enquanto não o fizesse. Considera que essa é uma visão feminista da história? Era só isso? Maureen relaxou um pouco, enquanto respondia à pergunta familiar: considero que é uma visão honesta da história. Não trato do assunto com qualquer outro interesse que não a busca da verdade. Mas ela ainda não se livrara do importuno. Pois me parece uma visão contra os homens. Nem um pouco. Adoro os homens. Acho que toda mulher devia ter um.
Maureen fez uma pausa, para permitir o riso das mulheres. Estou brincando. Meu objectivo era o de recuperar o equilíbrio, analisando a história com olhos modernos. Leva a sua vida da mesma maneira como as pessoas viviam há mil e seiscentos anos? Não. Então, porque leis, convicções e interpretações históricas determinadas na Idade Média devem reger a maneira como vivemos no século XXI? Não faz o menor sentido. O estudante declarou: mas é por isso que estou aqui, para descobrir o que realmente acontece. Óptimo. Neste caso, aplaudo a sua presença. Só peço que mantenha a mente aberta. Na verdade, quero que todos parem o que estão fazendo, levantem a mão direita e façam o seguinte juramento. Os estudantes do curso nocturno trocaram murmúrios outra vez. Sorriram e deram-de-ombros uns para os outros, querendo determinar se ela falava mesmo sério. A professora, escritora de sucesso e jornalista respeitada, mantinha-se de pé na frente deles, com a mão direita levantada e uma expressão de expectativa.
Vamos, encorajou. Levantem a mão e repitam o que eu disser.
Os estudantes levantaram a mão, esperando pela deixa. Juro solenemente, como um estudante sério de história, Mauree fez uma pausa, enquanto os estudantes repetiam, obedientes, lembrar em todas as ocasiões que as palavras registadas no papel foram escritas por seres humanos. Outra pausa, para a repetição dos estudantes. E como todos os seres humanos são regidos pelas suas emoções, opiniões, filiações políticas e religiosas, toda a história inclui tanto opinião quanto facto e em muitos casos foi inteiramente fabricada para promover as ambições pessoais ou as intenções secretas de quem a escreveu. Outra pausa. Juro solenemente manter minha mente aberta em cada momento em que estiver sentado nesta sala. Aqui está o nosso grito de batalha. A história não é o que aconteceu. A história é o que foi escrito. Ela levantou um livro de capa dura que estava no pódio à sua frente, mostrando para a turma. Todos já possuem um exemplar deste livro?» In Kathleen McGowan, O Segredo do Anel, Editora Rocco, 2006, ISBN 853-252-096-0.

Cortesia de ERocco/JDACT