quarta-feira, 10 de junho de 2020

A Biblioteca Perdida. A. M. Dean. «Prezada Emily , começava o bilhete, escrito na mesma caligrafia elegante, com a mesma tinta marrom do envelope. Minha morte com certeza precedeu esta carta»

Cortesia de wikipedia e jdact

9H35
«(…) Talvez fosse um convite para alguma festa ou evento, embora o estilo do envelope sugerisse um nível de sofisticação bem mais alto do que o das festas que ela costumava frequentar. Ela passou habilidosamente o dedo mindinho pela aba do envelope para abri-lo, e uma única folha de papel, dobrada ao meio, caiu no seu colo. Desdobrou o papel. Se as primeiras impressões definissem o cenário, pensou Emily, aquele bilhete pretendia criar uma cena extravagante. O papel era fino, obviamente caro, de uma cor creme bem clara e, se não estivesse enganada, tinha um leve perfume de cedro. O que viu no topo da página fez seu estômago contorcer-se. Em relevo, destacando-se levemente do tom do papel, havia um cabeçalho.

Do gabinete do professor Arno Holmstrand,
BA, MA, D.Phil, PhD, OBE
Arno Holmstrand, com todos aqueles títulos académicos e honrarias, o homem assassinado na noite anterior. O eminente professor. O professor morto. O que vinha a seguir capturou toda sua atenção.
Prezada Emily , começava o bilhete, escrito na mesma caligrafia elegante, com a mesma tinta marrom do envelope. Minha morte com certeza precedeu esta carta.


Carta

Nova York. 10h35
O secretário pegou no telefone antes que o primeiro toque se completasse. Alô! Feito. Exactamente de acordo com suas instruções. A voz do outro lado da linha falava num tom directo e frio. O Guardião está morto? Eu mesmo cuidei disso. Ontem à noite. A polícia encontrou-o hoje. O secretário recostou-se na poltrona, tomado por uma sensação de satisfação e poder. Um nobre objectivo fora alcançado e o futuro do seu projecto havia sido preservado. Poucos homens na história tinham tentado o que eles tentavam agora. Menos ainda eram os que tinham atingido os objectivos agora alcançados por eles. Mas eles teriam sucesso e, como mostrava o progresso da semana anterior, não havia quem pudesse se interpor no seu caminho. O secretário passou os dedos pelos cabelos grisalhos. Ele estava nos esperando, disse o outro homem. Aquilo era de se esperar. A eliminação do Assistente na semana anterior fora amplamente noticiada. Não tinha sido possível evitar. Não se assassinava um Chefe de Patentes de Washington sem que a comunicação social tomasse conhecimento. Além disso, não era objectivo do Conselho ocultar a eliminação. Esses assassinatos seriam dados como assassinatos para a maioria das pessoas, mas entre aquelas que eram seus alvos, eles seriam interpretados como recados. Advertências.
Isso é irrelevante, respondeu o secretário, contanto que tenha feito o seu trabalho. Além da fonte, com quem vamos lidar em breve, ele era o último homem que tinha visto a lista. O vazamento da lista fora imperdoável. Tudo o que eles lutaram para construir tinha sido colocado em risco por algo tão banal quanto uma lista de nomes. Uma lista que incluía nomes que ninguém poderia saber. Daquele sigilo, daquele anonimato, dependia todo o plano deles. E mesmo assim, de alguma forma, a lista caíra em mãos erradas. A única reacção possível era agir e erradicar os que tinham posto os olhos nela». In A. M. Dean, A Biblioteca Perdida, 2012, Editora Prumo, 2012, ISBN 978-857-927-298-1.

Cortesia de EPrumo/JDACT