segunda-feira, 1 de junho de 2020

The Godo d Small Things. Uma voz poética entre o Oriente e o Ocidente. Luciana Moura C. Camargo. «… são quatro livros religiosos considerados os mais antigos da Índia: Rigveda, Samaveda, Iajurveda e Atarveda. De acordo com a preservação desses livros, pode-se considerar…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Índia. O Universo do Deus das Pequenas coisas e sua Literatura
«Com uma história de mais de quatro mil anos, a Índia é um país que, com suas cores, temperos, cheiros, hibridismos culturais, trajes exóticos, festivais e cânticos sagrados, arquitectura e incensos, desperta a atenção do Ocidente. Com as suas dualidades, de estações geladas do Himalaia até às praias quentes e douradas do sul, de albergues aos hotéis-palácios, do ambiente vibrante de Mumbai às tranquilas praias de Goa, a Índia fascina todos que, de uma maneira ou de outra, não podem ficar indiferentes a essa experiência à moda das histórias das mil e uma noites. O território indiano possui cerca de três milhões de quilómetros quadrados, localiza-se ao sul da Ásia e divide-se em vinte e nove estados; ao norte faz fronteira com o Nepal e a China, ao leste com Bangladesh e Mianmar (Birmânia), ao nordeste com o Butão e ao oeste com o Paquistão. É considerado, depois da China, o segundo país mais populoso do mundo, com mais de um bilhão de habitantes. O regime político é o Parlamentarismo e a religião predominante é o hinduísmo, seguida do islamismo, budismo e outras menores, como o cristianismo e os sikhs, religião panteísta baseada nos ensinamentos de dez gurus que viveram no nordeste da Índia durante os séculos XVI e XVII.
A constituição indiana reconhece oitocentos e quarenta e quatro dialectos e catorze línguas oficiais, sendo que cada uma delas possui a sua respectiva literatura regional. Entretanto, todas remontam à cultura clássica baseada na tradição oral sânscrita, a mais antiga conhecida do ramo indo-europeu, que produziu textos sagrados védicos, nos anos 1500 a.C. Os Vedas (a ciência, o saber religioso) são quatro livros religiosos considerados os mais antigos da Índia: Rigveda, Samaveda, Iajurveda e Atarveda. De acordo com a preservação desses livros, pode-se considerar que os mesmos apresentam dois núcleos fundamentais: o Samhitas (colecções de orações e litanias) e o Bramanas e Upanissades, textos explicativos em prosa.

O Rigveda (Veda das Estrofes), segundo Eduardo Iáñez, é o mais antigo de todos e

[...] consta de 1028 hinos (suktas) divididos em dez livros (mandalas); composto entre 1500 e 1000 a.C., cada um dos livros é atribuído a uma família de bardos orsis (profetas) e destinava-se à classe sacerdotal que pretendia com eles a invocação aos deuses para que estes assistissem aos sacrifícios.

Essa obra constitui-se de importante fonte de informações sobre a religião e a população ária, que falava sânscrito e transmitia seus hinos oralmente. Somente após muitos séculos, houve o registo escrito desses hinos cantados em casamentos e funerais, cujas composições eram destinadas aos deuses Indra (deus da guerra e do céu), Agui (deus do fogo), Usas (a aurora), Varuna (deus do mar) e Vanu (deus do vento), entre outros. O Rigveda já se revela como uma forma de narrativa épica e até hoje é considerado um dos textos mais sagrados do hinduísmo.
O Samaveda (Veda dos Cânticos e Melodias) destaca-se pelo grande valor para a história da música, visto destinar-se ao aprendizado de canto e de diversas melodias, pelos alunos que desejavam frequentar a escola do Samaveda, com o sacerdote Udgatar. A secção textos explicativos apresenta valiosas fábulas sobre animais e assuntos sagrados. O Iajurveda (Veda das Fórmulas Sagradas) traz a sua importância atrelada à liturgia do cerimonial bramânico. Actualmente, são constituídos de cinco livros agrupados em dois Iajurveda, o branco e o negro. No branco, encontram-se os mantras, orações e fórmulas de sacrifícios; no negro, há exposição desses ritos. Os textos explicativos destacam-se pela presença de comentários acerca da origem das cerimónias sagradas e por servir de influência para o budismo. O Atarverda (Veda das fórmulas mágicas) constitui-se de fórmulas e conjuros de diversas procedências vinculadas à própria figura do Brâmane ou sacerdote supremo. Possui 731 hinos, alguns em prosa, e uma vasta colectânea de salmos e orações repletos de encanto poético. Para os textos explicativos, Eduardo Iáñez esclarece:

As interpretações mais notáveis correspondem às Upanissades, ensino de doutrinas secretas que se constituem, na realidade, nas mais antigas manifestações de filosofia indiana: o canto seria a exposição dos princípios de mundo, deus e alma em torno da concepção panteísta que poderia resumir-se na identificação Brâmane-alma universal/Atman-alma individual e na transmigração desta última até à libertação definitiva para unir-se com Brâmane».
[…]

In Luciana Moura C. Camargo, The Godo d Small Things, Uma voz poética entre o Oriente e o Ocidente, 2006, Tese de Doutoramento em Letras, Faculdade de Ciências e Letras, Araraquara, Brasil, 2006.

Cortesia FCLetras/JDACT