terça-feira, 16 de junho de 2020

Os Sete Pilares da Sabedoria. T.E. Lawrence. «Algumas das falhas da minha narrativa devem ser inerentes às nossas circunstâncias. Por anos e anos consecutivos vivemos de qualquer modo, uns com os outros, no deserto nu, sob o céu indiferente»

Cortesia de wikipedia e jdact

«Geoffrey Dawson persuadiu o All Souls College a dar-me, entre 1919-1920, tempo disponível suficiente para escrever sobre a revolta árabe. Sir Herbert Baker permitiu-me que morasse e trabalhasse nas suas casas de Westminster. O livro assim produzido passou à prova em 1921, quando foi feliz nos amigos que o criticaram. Deve ele em particular sua gratidão ao sr. e sra. Bernard Shaw, pelas incontáveis sugestões de grande valor e diversidade: e por todos os aperfeiçoamentos presentes. Não pretende ser imparcial. Escrevi-o de próprio punho e por minha própria iniciativa. Queira o leitor aceitá-lo como uma narrativa pessoal extraída de memória. Não me foi possível tomar devidamente os apontamentos: com efeito, seria falta de dever para com os árabes eu colher semelhantes flores enquanto eles combatiam. História idêntica poderiam contar todos os meus oficiais superiores, Wilson, Joyce, […] E havia muitos outros líderes ou combatentes isolados a quem não seria justo este relato. Menos justo ainda, evidentemente, como todas as histórias de guerra, com os que não receberam menção, e perdem, como devem, até que tenham sua bravura reconhecida, a sua quota de crédito». In Cranwell, 15 de Agosto de 1926

«Escrevi os Livros 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 10 em Paris, de Fevereiro a Junho de 1919. A Introdução foi escrita entre Paris e o Egipto, na minha ida ao Cairo, a bordo de um Handley-Page, entre Julho e Agosto de 1919. Mais tarde escrevi, na Inglaterra, o Livro 1. Perdi então tudo, salvo a Introdução e os rascunhos dos Livros 9 e 10, ao fazer baldeação num trem na Reading Station. Isso se passou no Natal de 1919. O texto I teria, caso tivesse sido terminado, cerca de 250.000 palavras, pouco menos que a impressão particular de Os sete pilares, na forma pela qual os receberam os subscritores. Minhas notas redigidas durante a guerra, sobre as quais se baseavam grandemente, foram sendo destruídas à medida que era terminada cada secção. Somente três pessoas leram muita coisa do seu conteúdo, antes de eu os ter perdido.

Texto II
Um mês ou mais, depois, comecei em Londres a rabiscar o que me vinha à memória sobre o texto primeiro. Naturalmente dispunha ainda da Introdução original. Completei os outros dez livros em menos de três meses, escrevendo muitos milhares de palavras a cada vez, em demoradas sessões. Assim, o Livro VI foi inteiramente escrito entre um nascer de sol e outro. O estilo sofreu necessariamente a falta de esmero: e dessa forma o Texto II (se bem que apenas introduzisse poucos episódios novos) ultrapassou 400.000 palavras. Corrigi-o em intervalos no decorrer de 1920, confrontando-o com os arquivos do Arab Bulletin e dois diários, além de alguns apontamentos remanescentes. Conquanto péssimo como texto, tornou-se substancialmente completo e exacto. De todo esse texto somente uma página foi por mim lançada ao fogo em 1922.

Texto III
Com a presença do Texto II sobre a mesa, comecei em Londres o Texto III, continuando-o depois em Jidá e Amã durante o ano de 1921, e novamente em Londres até Fevereiro do ano seguinte. Grande cuidado foi exercido na sua composição. Ainda existe esse manuscrito. Contém quase 330.000 palavras.

Textos Impressos Particularmente. Oxford 1922
Apesar de parecer-me difusa e pouco satisfatória a história, conforme foi completada no Texto III, como medida de prudência foi impressa textualmente em folhas não encadernadas em Oxford, no primeiro trimestre de 1922, sob os auspícios do pessoal do Oxford Times. Visto haver a solicitação de oito exemplares e ser muito grande o livro, preferiu-se a forma impressa à datilografada. Cinco exemplares (encadernados em livro para comodidade dos antigos membros da Força Expedicionária do Hedjaz, que se prontificaram a criticá-lo) não foram ainda (Abril de 1927) destruídos.

«Algumas das falhas da minha narrativa devem ser inerentes às nossas circunstâncias. Por anos e anos consecutivos vivemos de qualquer modo, uns com os outros, no deserto nu, sob o céu indiferente. Durante o dia, castigava-nos o calor; e aturdia-nos o vento fustigante. À noite, éramos molestados pelo orvalho, e reduzidos a insignificâncias pelos inumeráveis silêncios das estrelas. Constituíamos um exército sem gala nem acção, centralizado em si mesmo, devotado à liberdade, que é o segundo credo do homem, finalidade tão voraz que tragava todas as nossas energias, e esperança tão transcendente que as nossas primeiras ambições desmaiaram ao seu fulgor». In T.E. Lawrence, Os Sete Pilares da Sabedoria, 1922, 1926, Publicações Europa-América, 2004, ISBN 978-972-100-483-2.

Cortesia de PEAmérica/JDACT