quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Metamorfoses do Espaço Termal. O Caso das Termas de S. Pedro do Sul. Ana Patrícia Carriço. «Através da observação directa dos novos espaços e da vivência dos participantes (termalistas/utentes e funcionários), associada a um estudo de caso…»

Cortesia de wikipedia, dona helena almeida e jdact

Com a devida vénia à doutora Ana Patrícia Silva Carriço

«Tendo como ponto de partida o elemento água, pretendeu-se com este trabalho dar a conhecer as diversas alterações pelas quais passaram os edifícios termais em S. Pedro do Sul, bem como as relações termais actuais. Analisando as características dos diversos edifícios e das diversas épocas (desde a sua fundação romana até à Idade Moderna), foi também dada a conhecer a história do termalismo ao nível local e nacional. Numa primeira fase, foi realizada a análise da história e dos conceitos que envolvem o termalismo, como a água, o lazer, o turismo, particularizando as situações até chegar aos edifícios termais medicinais que ainda hoje se encontram edificados nas Termas de S. Pedro do Sul. Graças ao cruzamento de dados de natureza distinta (arqueológicos, as cartográficos, histórico, documentais) foi possível completar as plantas existentes e interpretar as grandes fases históricas de ocupação das termas (romana, medieval, moderna). Analisámos também a transformação de aspectos concretos da evolução arquitectónica, designadamente, o funcionamento, desde o processo construtivo até às práticas e rituais de um dia na vida normal de um balneário, diferenciando para além de outras questões, os espaços e o banho termal, medicinal de outros espaços. Para interpretar os espaços termais, foi necessário fazer uma análise das transformações sociais, inclusive das alterações radicais que a modernidade trouxe à relação entre espaço e indivíduo, e aprofundar o conhecimento sobre a experiência humana, a denominação dos espaços, a mobilidade, a flexibilidade dos usos, a economia, a adaptação às novas tecnologias e a consciência que hoje temos das mesmas. A relação entre o homem e o espaço, que se traduz na arquitectura termal, oferece-nos práticas e rituais específicos que promovem diferentes visões da percepção da forma construída. Através da observação directa dos novos espaços e da vivência dos participantes (termalistas/utentes e funcionários), associada a um estudo de caso, foi analisado territorialmente o impacto do edifício termal e a forma de relacionamento dos intervenientes com o mesmo. Garantir o bem-estar e a melhoria das condições de vida são factores determinantes para a construção de uma sociedade moderna, pelo que, no culminar deste trabalho, foram propostas as recomendações técnicas para um estabelecimento termal que visaram a definição tipológica da construção termal actual, com vista a assegurar níveis de qualidade exigidos pela lei nacional e internacional. Os resultados alcançados permitiram destacar: a caracterização das alterações ocorridas no espaço construído ao longo do tempo; as diversas componentes que a relação espaço termal / indivíduo hoje comporta e a definição tipológica actual da construção termal, com vista a assegurar níveis máximos de qualidade». In Resumo

Enquadramento do Tema e Objectivos
«No princípio era o culto em volta das águas. Há cerca de seis mil anos que o homem conhece o benefício das águas, banhos e tratamentos, embora as suas reais capacidades sejam de conhecimento mais recente. A descoberta das fontes, das formas de captação e da sua utilização (lúdica e medicinal), depois de um longo percurso na História, têm demonstrado os avanços da Humanidade e da própria tecnologia, na descoberta deste recurso cada vez mais escasso – a Água. A história termal aparece assim ligada a este recurso, à sua aplicação por parte da medicina mas com períodos de grandes oscilações. Os balneários tiveram um tempo, que deixou memórias, nas atitudes, na forma de estar, nas lembranças herdadas e contadas e que hoje são recontadas sob um ponto de vista mais global, onde se cruzam saúde, lazer e ambiente.
São comuns as lembranças de familiares nas termas, os passeios junto do balneário, sozinhos ou em grupo, com os veraneantes do costume, cruzando e olhando atenciosamente as caras novas que iam chegando, cumprindo assim o ritual de ir a banhos. A análise da estância e do balneário é uma análise de espaços de luzes, sombras e cheiros, onde a cura e o prazer se misturam. Assim, a magia destes locais está no seu poder de cura e na recriação de ambientes que transportam os utentes para outra dimensão. Para uns é um espaço de cura, para outros, um espaço de lazer; para os pobres um remédio ao alcance, e para outros, um parêntesis nas suas ocupações habituais.
O termalismo é talvez o tipo de actividade lúdica mais remota de que há memória. A existência de águas minerais e a sua sucessiva aplicação terapêutica pelo Homem, através da ingestão, da aplicação e dos banhos, perde-se no tempo, assim como as construções, as práticas e rituais junto das nascentes, localidades ou aglomerados humanos. Por isso, num trabalho dedicado às metamorfoses do espaço termal, torna-se imperioso, clarificar os conceitos associados às termas. O processo de representação dos locais termais ou banhos, como da arquitectura em geral, não se resume à imaginação, a uma actividade evocativa e literária. È necessário analisar e construir uma técnica de representação para que essas sugestões, projectos, em sentido mais abrangente, se tornem material de estudo, de análise, de comunicação». In Ana Patrícia Carriço, Metamorfoses do Espaço Termal, O Caso das Termas de S. Pedro do Sul, Tese para obtenção do Grau de Doutor em Arquitectura, Universidade da Beira Interior, Faculdade de Engenharia, Covilhã, 2013.

Cortesia de UBeiraInterior/JDACT