segunda-feira, 7 de outubro de 2019

O Conselho. Jéssica Anitelli. «Sabia que não adiantaria discutir com eles. Volto daqui a três meses, olhou para Samantha dizendo com os olhos que iriam embora»

Cortesia de wikipedia e jdact

«Seria um caminho sem volta? Será que retornaria para a sua cidade em breve? Realmente estava preparado para enfrentar o Conselho Internacional dos vampiros? Eram perguntas sem respostas, só conseguiria sanar as suas dúvidas no momento em que estivesse lá, frente a frente com aqueles tidos como os mais poderosos do mundo. Por ser um vampiro de um pouco mais de 100 anos, não conhecia os membros do Conselho, responsáveis por todos os outros espalhados pelo mundo. A única coisa que sabia era que Miguel tinha contacto com eles, no entanto, nem mesmo o líder brasileiro possuía tanta certeza assim de que poderiam sair vitoriosos. Tinham como parceiros os seres da noite mais fortes do país, mas infelizmente não poderiam levar todos e deixar suas terras desprotegidas, precisavam de gente no Brasil para garantir a segurança dos demais e até mesmo dos humanos, que não sabiam de nada. Dias após a morte de Nelson, Augusto e Samantha deixavam a cidade de Leme e se encaminhavam para São Paulo. Nesse momento, o ex-líder do pequeno município do interior paulista conduzia o veículo que os levaria para o prédio do Conselho na região central da capital. Porém, antes de saírem de Leme, decidiu passar num lugar. Precisava garantir alguma vantagem. Fazer o que Miguel havia-lhe pedido meses atrás. Só que algo ainda o incomodava em relação às criaturas. Não sabia o que era, mas um mau pressentimento teimava em percorrê-lo. O veículo foi estacionado na Rua Maria Aparecida Arrais Koch ao lado de uma escola. Logo que o casal desceu, encaminharam-se para a imagem de Nossa Senhora, localizada do outro lado da Avenida, em frente a uma rotatória. Graças à vegetação que encobria o local, ambos não eram vistos pelas poucas pessoas que passavam naquele horário. Quando pararam atrás da protecção de pedra, que mantinha a imagem em segurança, Augusto fez as presas crescerem e com elas perfurou a própria mão. Passou o sangue que começava a escorrer por uma das pedras em formato rectangular. Segundos depois, um buraco se abriu. O vampiro pegou Samantha pela mão e colocou a outra dentro do espaço aberto. Logo em seguida materializaram-se num túnel escuro, húmido e fétido. O caminho foi percorrido calmamente pelos vampiros. Após alguns minutos de caminhada, o túnel alargou-se e tochas iluminaram o ambiente. No centro da sala circular avistava-se a pedra negra que foi usada para o ritual de Henrique. O casal andou até ela e sentou-se, no instante seguinte cinco criaturas encapuzadas surgiram diante dos seus olhos. Que bom que você voltou, Augusto, disse uma delas. Não sei se é bom, mas preciso perguntar algumas coisas, falou o vampiro se levantando para ficar no mesmo nível que os seres do submundo. Pode falar. Daqui a alguns meses, eu e mais alguns vampiros iremos à Inglaterra para tentar tomar posse do Conselho Internacional. Quero saber se tem como vocês nos ajudarem com isso e se consigo entrar em contacto com vocês estando lá. Você quer muita coisa, não se esqueça de que tudo tem um preço. Não me esqueci e estou disposto a um acordo caso seja do interesse de vocês. É óptimo ouvir isso, a criatura sorriu mostrando os dentes pontiagudos. Temos apenas um único pedido a fazer: queremos que você nos liberte do submundo. Augusto estarreceu. Nunca pensou que aquela proposta seria jogada para a negociação. Engoliu em seco. Hesitou um pouco. Por fim, perguntou: como eu faço isso? Causando sofrimento, respondeu outra criatura. Precisamos que você proporcione esse sentimento aos humanos, com isso eles sentirão raiva, revolta, sede de vingança. E isso nos deixa mais fortes. Mas como vocês vão sair? Os humanos sofrem todos os dias e nem por isso vocês conseguiram deixar esse lugar. Você precisará da ajuda de outros seres. E além disso, você também precisará fazer com que o feitiço que absorve energia boa e nos mantém aqui não exista mais. Entendi perfeitamente tudo até esse ponto, contudo, como faço para acabar com esse feitiço? Ainda não sabemos exactamente, mas para tal tarefa precisaremos de humanos mágicos. O quê?, perguntou indignado. Como assim não sabem? E onde vou arrumar um humano mágico? Iremos pesquisar. Volte daqui a três meses. Não posso ficar esperando a vontade de vocês. Precisamos partir para Inglaterra. Se você quer a nossa ajuda terá que esperar, e além do mais, você é um vampiro, tem todo o tempo do mundo. Tudo bem, bufou. Sabia que não adiantaria discutir com eles. Volto daqui a três meses, olhou para Samantha dizendo com os olhos que iriam embora. Quando vier, nos traga alguns corações de recém-nascidos. Augusto apenas meneou positivamente a cabeça e depois deixou o lugar acompanhado por Samantha. Ela ameaçou dizer algo, porém ele lhe tapou a boca e indicou com o dedo o próprio ouvido, sinal de que os seres do submundo ouviriam a sua conversa. Quando se viram do lado de fora, atrás da imagem de Nossa Senhora, Samantha perguntou: você realmente vai tentar trazê-los para esse lado?» In Jéssica Anitelli, O Conselho, Editora Dracaena, 2012, ISBN 978-856-446-971-6.

Cortesia da Dracaena/JDACT