quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O Papado e Portugal no primeiro século da História Portuguesa: Carl Erdmann. «Na Primavera de 1109 Maurício está em Roma, onde recebe do papa Pascoal II a confirmação da sua transferência de Coimbra para Braga, o palio e o privilégio. De regresso firmou com Diego de Compostela, que não pensava em renunciar às suas reivindicações bracarenses…»


Cortesia de uc

Maurício de Braga e Diego de Compostela
«A morte de dois homens, ocorrida nos últimos anos do governo do conde Henrique, veio modificar a situação eclesiástica e política de Portugal. Em Dezembro de 1108 morreu o arcebispo Geraldo de Braga, quo gozava junto do clero português de uma autoridade absoluta. Depois do meio ano segue-se-lhe a do senhor da terra, o rei Afonso VI de Castela. A sua morte é a causa de desordens fatais em toda a península.
Sucedeu a Geraldo em Braga, em princípios de 1109, o até então bispo de Coimbra, Maurício. Era, como podemos concluir da sua carreira, um espírito inquieto, que apesar de uma certa habilidade para as negociações, não tinha mão firme em questões políticas. Encontramo-lo sempre nos momentos decisivos ao lado do partido mais fraco, e o seu procedimento custou à igreja portuguesa uma boa parte das vantagens adquiridas durante o último decénio.
A princípio tudo corre normalmente. Na Primavera de 1109 Maurício está em Roma, onde recebe do papa Pascoal II a confirmação da sua transferência de Coimbra para Braga, o palio e o privilégio. De regresso firmou com Diego de Compostela, que não pensava em renunciar às suas reivindicações bracarenses, um acordo em que este lhe cedia metade dos domínios compostelanos em Braga e Cornellana como feudo, e o nomeava cónego de Santiago. Mas teve, por causa do bispado de Coimbra, um conflito – a princípio sem culpa da sua parte, - com o homem mais poderoso da igreja hispânica, Bernardo de Toledo.

Cortesia de uc

As questões dos bispos relativas à divisão eclesiástica e atribuição das dioceses às diferentes províncias ocupam na época seguinte o primeiro lugar nas relações de Portugal com o papado. O historiador que gostar de ver as coisas em conjunto pode ser levado a julgar estes dissídios como questiúnculas, sem lhes atribuir valor histórico. Isso Seia desconhecer a situação das coisas. Na época em que se formaram, no avanço contra o Islão, os estados peninsulares, de duração plurissecular alguns, outros ainda existentes, e onde a organização eclesiástica primava sobre a política, a inclusão dum território numa diocese ou província eclesiástica revestia importância primordial. Às ambições pessoais dos príncipes da igreja juntavam-se, ou com elas se cruzavam de múltiplas maneiras, as tendências políticas dos príncipes muitas vezes na dependência daqueles outros, apoiando-os e dando-lhes alento, outras ainda estorvando-os. Lembremo-nos da história da Alemanha Oriental, que mostra uma expansão parecida com a espanhola, e da questão das metrópoles de Magdeburgo e Gnesen. Há, é certo, diferenças fundamentais. Na Península Ibérica, quase não houve movimento missionário como na Alemanha Oriental; por isso nunca se manifestou a necessidade duma metrópole própria e do estabelecimento, pelo povo vencido, dum centro de organização e civilização.
A rivalidade dos diferentes estados cristãos entre si era tanto maior, quanto é certo que gravitava em volta das delimitações das fronteiras e da supremacia dum sobre os outros». In Carl Erdmann, O Papado e Portugal no primeiro século da História Portuguesa, Universidade de Coimbra, Instituto Alemão da Universidade de Coimbra, Coimbra Editora, 1935.

Cortesia de Separata do Boletim do Instituto Alemão/JDACT