domingo, 22 de julho de 2018

As Egípcias. Christian Jacq. «Tendo morrido centenário, o rei Pépi II teve como sucessor Merenré, cujo reinado foi muito breve: deve ter durado menos de um ano. É então que entra em cena Nitócris…»

Cortesia de wikipedia e jdact

A rainha Quenet-Kaus, um faraó esquecido?
(…) As três esposas de Pépi II (Neit, Ipuit e Udjebten) viveram a sua eternidade nas três pirâmides próximas da do rei, as duas primeiras a noroeste, a terceira a sueste. Cada uma delas possuía um templo onde os ritualistas celebravam um culto do ka dedicado à rainha defunta. A grande Neit, cujo nome evoca o da deusa, foi a primeira grande esposa real de Pépi II; igualmente esposa da pirâmide do rei, foi venerada por todos os dignitários da corte. A sua própria pirâmide era rodeada por uma muralha com uma única porta precedida por dois pequenos obeliscos. Na primeira sala, dita sala dos leões, praticavam-se ritos de ressurreição. Depois encontrava-se um pátio, câmaras onde se conservavam objectos rituais e estátuas, e o santuário propriamente dito, encostado à parede da pirâmide. Um corredor estreito conduzia ao jazigo que abrigava um sarcófago de granito rosado, comparável ao de Pépi II. A pirâmide de Ipuit e o seu templo, mal conservados, compreendem conjuntos idênticos, mas com uma disposição diferente. Um lintel em granito especifica que o faraó mandara edificar este monumento para a sua esposa, aliás figurada nos alizares. A pirâmide de Udjebten, que não teria sido de origem real, ao contrário das duas primeiras esposas, não era menos importante. É certo que estes três monumentos não passam de ruínas, mas contêm um tesouro excepcional, parcialmente descoberto em consequência da dificuldade das escavações: colunas de textos hieroglíficos consagrados aos múltiplos modos de ressurreição da alma real e à sua perpétua viagem no Além. Estes Textos das Pirâmides, concebidos na cidade santa de Heliópolis, foram revelados pela primeira vez no interior da pirâmide de Unas, o último faraó da quinta dinastia, e as três mulheres de Pépi II foram autorizadas a mandar inscrever nas paredes do seu jazigo estas fórmulas de magia e de conhecimento. Tal como Pépi II, elas repousam pois no interior de um Livro da Vida onde cada hieróglifo está carregado de poder.
A menos que falte descobrir uma pirâmide feminina com textos, foi a primeira vez que se gravou em pedra a identificação de uma rainha com Osíris. Os textos das pirâmides das três mulheres de Pépi II oferecem ao mesmo tempo capítulos comuns à totalidade dos monumentos do mesmo tipo e passagens originais; ou seja, estas três grandes damas fazem ouvir uma voz única e insubstituível. Estas figuras distantes, cuja história pessoal é desconhecida, formam uma trindade hieroglífica que opera para a concretização de um dos grandes ideais do Antigo Egipto: a vitória sobre a morte.

Nitocris, a Primeira Mulher Consagrada Faraó
O reinado de Nitócris
Tendo morrido centenário, o rei Pépi II teve como sucessor Merenré, cujo reinado foi muito breve: deve ter durado menos de um ano. É então que entra em cena Nitócris, a primeira mulher oficialmente consagrada faraó reinante, posto que o seu nome figura numa das listas reais compostas pelos próprios egípcios e conhecida sob a designação de Cânone de Turim. Outras listas foram provavelmente destruídas e constatamos que, muito antes de Nitócris, houve mulheres que exerceram o poder supremo. Contudo, no actual estado de documentação, ela é a primeira mulher a possuir formalmente o título de Rei do Alto e Baixo Egipto. Nitócris subiu ao trono cerca de 2184 a.C. e, de acordo com os arquivos da época ramessida, reinou dois anos, um mês e um dia; certos investigadores inclinam-se a favor de um período mais longo, de seis a doze anos. Infelizmente não chegou até nós nenhum documento arqueológico com o seu nome, o que origina uma situação paradoxal: para rainhas anteriores, como Quenet-Kaus, há um monumento colossal, faraónico, mas nenhum título explícito; para Nitócris, há o título mas nenhum monumento! Belo enigma a resolver e, se não tivesse sido destruída, uma sepultura excepcional para se descobrir». In Christian Jacq, As Egípcias, Edições ASA, 2002, ISBN-978-972-413-062-0.

Cortesia de EASA/JDACT