segunda-feira, 23 de julho de 2018

O Manuscrito. John Grisham. «Em 1950, Scottie, a sua única filha, ofereceu os manuscritos originais, as notas e cartas, seus documentos, à Biblioteca Firestone na universidade de Princeton»

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O Assalto
«(…) Na sua carta, o professor Manchin pedia a quem respondesse que o fizesse por e-mail, e dava um endereço privado de gmail. Dizia que raramente consultava o da universidade. Isso é porque não passas de um mero assistente e provavelmente nem sequer tem gabinete, pensou Ed. Tinha muitas vezes este tipo de pensamentos, mas é claro que era demasiado profissional para os confidenciar fosse a quem fosse. Por precaução, no dia seguinte enviou uma resposta através do servidor da Portland State. Agradecia ao professor Manchin pela sua carta e convidava-o a ir ao campus de Princeton. Pedia uma ideia aproximada de quando seria a sua visita e explicava algumas das regras básicas relativas à colecção Fitzgerald. Havia muitas, e ele sugeria que o professor Manchin se inteirasse delas no sítio da biblioteca. A resposta foi automática, informando Ed de que Manchin estaria ausente durante alguns dias. Um dos comparsas de Manchin tinha acedido ilegalmente ao diretório de Portland State e penetrado o suficiente para modificar o servidor de e-mail do Departamento de Inglês; tarefa fácil para um pirata informático sofisticado. Ele e o impostor souberam de imediato que Ed tinha respondido.
Paciência, pensou Ed. No dia seguinte, enviou a mesma mensagem para o endereço privado de gmail do professor Manchin. Passada uma hora, Manchin respondeu, agradecendo de forma entusiasmada, dizendo que estava ansioso por lá ir, etc. Gabava-se de ter estudado o sítio da biblioteca, de ter passado horas a consultar os arquivos digitais de Fitzgerald, de ter adquirido há vários anos a colecção de vários volumes que continha as edições fac simile das primeiras versões manuscritas pelo autor e mostrava-se particularmente interessado nas recensões críticas do primeiro romance, This Side of Paradise. Fantástico, disse Ed. Já tinha visto aquilo antes. O tipo estava a tentar impressioná-lo antes mesmo de lá chegar, o que não era nada de inusitado.

Scott Fitzgerald inscreveu-se na Universidade de Princeton no Outono de 1913. Aos dezasseis anos, sonhava escrever o grande romance americano e, na verdade, tinha começado a trabalhar numa primeira versão de This Side of Paradise. Desistiu quatro anos depois para se juntar ao Exército e ir para a guerra, mas esta terminou antes de ele ter sido destacado. O seu clássico, The Great Gatsby, for publicado em 1925, mas só se popularizou após a sua morte. Lutou com dificuldades financeiras ao longo da sua carreira e, em 1940, estava a trabalhar em Hollywood a produzir maus guiões, declinando em termos físicos e criativos. A 21 de Dezembro morreu de ataque cardíaco, provocado por anos de grave alcoolismo.
Em 1950, Scottie, a sua única filha, ofereceu os manuscritos originais, as notas e cartas, seus documentos, à Biblioteca Firestone na universidade de Princeton. Os seus cinco romances tinham sido escritos à mão, em papel barato que não resistia bem ao tempo. A biblioteca depressa percebeu que seria uma insensatez permitir que os investigadores os manuseassem. Foram feitas cópias de alta qualidade e os originais foram trancados num cofre forte, na cave, onde o ar, a luz e a temperatura eram cuidadosamente controlados. Ao longo dos anos, só tinham saído de lá um punhado de vezes». In John Grisham, O Manuscrito, 2017, Bertrand Editores, 2018, ISBN 978-972-253-544-1.

Cortesia de BertrandE/JDACT