terça-feira, 24 de julho de 2018

Mago Mestre. Raymond Feist. «O tronco da árvore estava-se rachando ao meio, pois a parte de cima fora cortada. Embora não fosse um comportamento habitual, se uma árvore estivesse em estado avançado de degradação e a polpa tivesse perdido a força…»

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…) O capataz parou na base da árvore, segurando as vestes curtas acima da linha da água. Grunhiu como o urso que parecia e gritou para Pug: que história é essa de outra árvore podre? Pug falava o idioma tsurani melhor do que qualquer midkemiano no acampamento, pois era quem estava lá há mais tempo, tirando alguns velhos escravos tsurani. Gritou para baixo: tem cheiro de podre. Devíamos desbastar outra e deixar esta em paz, feitor. O capataz acenou com a mão. São todos preguiçosos. Esta árvore não tem nada de errado. Está boa. Não querem é trabalhar. Agora, corte-a! Pug suspirou. Não havia como discutir com o Urso, como Nogamu era conhecido por todos os escravos de Midkemia. Era óbvio que estava aborrecido com alguma coisa e seriam os escravos a pagar por isso. Pug começou a dar golpes na parte superior, que logo caiu. O cheiro de podre era intenso e Pug retirou as cordas depressa. Ainda com o último pedaço amarrado na cintura, ouviu o som da madeira rachando. Vai cair!, gritou para os escravos que se encontravam na água abaixo. Sem hesitar, todos fugiram. Quando se ouvia a palavra cair, ninguém ignorava o aviso.
O tronco da árvore estava-se rachando ao meio, pois a parte de cima fora cortada. Embora não fosse um comportamento habitual, se uma árvore estivesse em estado avançado de degradação e a polpa tivesse perdido a força, qualquer falha na casca poderia fazê-la sucumbir ao próprio peso. Os galhos das árvores afastariam as metades. Se Pug ainda estivesse preso ao tronco, as cordas o cortariam ao meio antes de arrebentarem. Pug calculou a direcção da queda. Quando a metade em que estava começou a se deslocar, atirou-se dela. Caiu de costas na água rasa, na esperança de que o meio metro de profundidade suavizasse a queda tanto quanto possível. O baque na água foi imediatamente seguido pelo impacto mais violento contra o chão. O fundo era feito principalmente de lama, logo ele não sofreu grandes danos. Com o choque, o ar que tinha nos pulmões explodiu pela sua boca, deixando-o tonto por um instante. Manteve presença de espírito suficiente para sentar e expirar fundo.
De repente, sentiu um peso golpear-lhe o estômago, deixando-o sem ar e empurrando a sua cabeça de novo para baixo da água. Debateu-se, tentando mexer-se, e sentiu um galho enorme em cima do estômago. Mal conseguia manter o rosto à tona para respirar. Sentia os pulmões ardendo e respirava descontroladamente. A água entrou pela traqueia e começou a sufocá-lo. Tossindo e cuspindo, tentou manter a calma, mas o pânico começava a apoderar-se dele. Desesperado, tentou empurrar o peso de cima dele, mas o galho não se mexeu. Subitamente, sentiu a cabeça fora da água e ouviu Laurie dizer: cuspa, Pug! Expulse essa porcaria ou vai pegar a febre dos pulmões. Pug tossiu e cuspiu. Com Laurie segurando a sua cabeça, recuperou o fôlego aos poucos. Laurie gritou: agarrem o galho. Eu puxo-o de lá de baixo. Vários escravos chapinhavam ao redor, com os corpos suados. Pegaram o galho submerso com esforço e o levantaram um pouco, mas não o bastante para que Laurie arrastasse Pug dali. Tragam machados. Temos de cortar o galho.
Os outros escravos começaram a levar machados, mas Nogamu gritou: não. Deixem aí. Não temos tempo para isso. Há mais árvores para cortar. Laurie quase gritou: não podemos deixá-lo aqui! Vai se afogar! O capataz avançou e bateu em Laurie com o chicote. Fez um corte profundo na face do cantor, que não largou a cabeça do amigo. Volte ao trabalho, escravo. Hoje à noite você será espancado por falar comigo dessa maneira. Há outros que conseguem subir até lá em cima. Agora, deixe-o! Voltou a bater em Laurie, que se encolheu mas manteve a cabeça de Pug acima da água. Nogamu ergueu o chicote para o terceiro golpe, mas foi impedido por uma voz que veio de trás: tirem o escravo de baixo do galho. Laurie viu que quem tinha falado fôra o jovem soldado que acompanhava o feitor. O capataz virou-se, desacostumado a ter suas ordens questionadas. Quando viu quem falara, reprimiu as palavras que estavam na ponta da língua. Assentindo com a cabeça, disse: seja feita a sua vontade». In Raymond Feist, Mago Mestre, 1982, 1992, Saída de Emergência, 2014/2015, ISBN 978-989-637-767-0.

Cortesia de SdeEmergência/JDACT