terça-feira, 27 de novembro de 2018

Portugal na Espanha Árabe. António Borges Coelho. «Muguite caminhou até chegar a Córdova e acompou na vila de Xecunda, num bosque de alerces que havia entre as vilas de Xecunda e Tarsail»

jdact

A conquista de Espanha. Tárique
Batalha do Lago ou Guadalete
«(…) Encontraram-se Rodrigo e Tárique, permanecera em Algeciras, num lugar chamado o Lago, e pelejaram encarniçadamente. Mas as alas direita e esquerda, a mando de Sisberto e Opas, filhos de Vitiza, puseram-se em fuga. E ainda que o centro resistisse algum tanto, no final Rodrigo foi também derrotado e os muçulmanos fizeram uma grande matança nos inimigos. Rodrigo desapareceu sem que se soubesse o que lhe havia acontecido, pois os muçulmanos só encontraram o seu cavalo branco com a sela de ouro, guarnecida de rubis e esmeraldas e um manto tecido de ouro e bordado de pérolas e rubis. O cavalo caíra num lodaçal e o cristão que caiu com ele, ao arrancar o pé, deixara um tesouro no lodo. Só Deus sabe o que se passou, pois não se teve notícias dele, nem se encontrou vivo ou morto.
                          
Combate de Ecija
Tárique marchou em seguida pelo estreito de Algeciras e dirigiu-se depois à cidade de Ecija: os habitantes, acompanhados pelos fugitivos do exército grande, saíram ao seu encontro e travou-se um combate tenaz, no qual os muçulmanos tiveram muitos mortos e feridos. Deus concedeu-lhes por fim a sua ajuda e os politeístas foram derrotados, sem que os muçulmanos voltassem a encontrar tão forte resistência. Tárique apeou-se numa fonte que se encontra a quatro milhas de Ecija, nas margens do seu rio, e que tomou o nome de fonte de Tárique. Infundiu Deus terror no coração dos cristãos quando viram que Tárique se internava no país (tinham acreditado que faria o mesmo que Tárife). E fugindo para Toledo, encerraram-se nas cidades de Espanha. Então Julião acercou-se de Tárique e disse-lhe: já deste cabo da Espanha. Divide agora o teu exército, ao qual servirão de guia estes meus companheiros. E tu marcha contra Toledo. Dividiu, pois, o seu exército em Ecija. E enviou Mahuite Arrumi, liberto de Alualide ibne Abde Almálique, a Córdova (que era então uma das maiores cidades e é actualmente a fortaleza dos muçulmanos, a sua principal residência e a capital do reino), com 700 cavaleiros, sem nenhum peão, pois não tinha ficado muçulmano sem cavalo. Mandou outro destacamento a Raia, outro a Granada, capital de Elvira, e dirigiu-se para Toledo com o grosso das tropas.

Tomada de Córdova
Muguite caminhou até chegar a Córdova e acompou na vila de Xecunda, num bosque de alerces que havia entre as vilas de Xecunda e Tarsail. Daqui mandou alguns dos seus adais, os quais prenderam e trouxeram à sua presença um pastor que andava apascentando gado no bosque. Muguite pediu-lhe notícias de Córdova. E ele disse que a gente principal tinha marchado para Toledo, deixando na cidade o governador com 400 defensores e a gente de pouca importância. Perguntou-lhe depois pela fortaleza das suas muralhas, ao que respondeu que eram bastante fortes, mas que, sobre a porte da Estátua, havia uma fenda que lhes descreveu». In António Borges Coelho, Portugal na Espanha Árabe, História, Colecção Universitária, Editorial Caminho, 1989, ISBN 972-21-0402-0.
                            
Cortesia de Caminho/JDACT