quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Onomástica Galega em duas cidades do sul de Portugal. Santarém e Évora. Maria Ângela Beirante. «Assim é que Pedro Fernandes Castro, o senhor mais poderoso da Galiza, foi educado na corte portuguesa de Dinis I»

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…) Há que analisar os aspectos qualitativos que transcendem o simples crescimento demográfico, embora não se possam separar dele. Enumeremos então estes aspectos:

Um dos mais importantes é de natureza social, pois radica na essência da sociedade senhorial que a grande propriedade nobiliárquica e eclesiástica modelou na zona galaico-portguesa;
A sociedade galega medieva é constituída por uma grande massa de camponeses dependentes de uma minoria de senhores e as coacções senhoriais desencadeiam naturalmente a emigração. A fuga em direcção às terras do Sul constituía invariavelmente uma aventura bem sucedida. Nos lugares reconquistados, o antigo colono (que legalmente não podia abandonar a terra que cultivava) adquire direitos e liberdades;
Note-se que estas transferências de população coincidiram com a rotura dos vínculos de parentesco extenso e com a implantação da família conjugal. Como tipo de solidariedade reforçam-se os laços de vizinhança que são transplantados para as novas comunidades, sem esquecer por isso a marca da sua origem que, como vimos, se traduz em etno-topónimos;
Um outro aspecto igualmente importante é de natureza político-militar pois assenta nos interesses da nobreza e da monarquia, empenhadas no comando da sociedade e na manutenção de um status privilegiado. Sabemos, por exemplo, que a nobreza portuguesa procurou alianças com a galega através do casamento e que muitas linhagens portuguesas (Barbosa, Soverosa, Límia, Ribeira, Trava, Pereira, Nóvoa) têm origem galega.

Muitos nobres galegos, como que fugindo ao centralismo castelhano, demandam a corte dos reis de Portugal. Assim é que Pedro Fernandes Castro, o senhor mais poderoso da Galiza, foi educado na corte portuguesa de Dinis I. Os seus filhos são indissociáveis da história de Portugal: Inês de Castro ficou imortalizada na lenda e na arte. Álvaro Peres Castro foi o primeiro condestável de Portugal e, como valido de Fernando I foi o primeiro conde de Arraiolos. Fernando Castro, que foi adiantado-mor da Galiza, teve papel dominante nas guerras entre Pedro I e Henrique de Trastâmara, em que se envolveu Fernando I de Portugal, optando pelo partido legitimista. A vitória da monarquia trastamarista, eminentemente centralizadora e castelhanizante, canalizou para Portugal a maior parte da nobreza galega, sob a égide dos Castros que tinham grande influência na corte portuguesa. Maior ascendente na corte do monarca Fernando I (e mais ainda junto de Leonor Teles) veio a ter outro nobre galego, João Fernandes Andeiro, conde de Ourém. A sua influência foi-lhe, porém, funesta. Por ser partidário da união de Portugal a Castela, foi morto pelo Mestre de Avis, fundador da nova dinastia portuguesa. Devemos ainda sublinhar a importância de outro factor:

O político-religioso por se desenvolver ao nível da organização eclesiástica».

In Maria Ângela Beirante, Onomástica Galega em duas cidades do sul de Portugal, Santarém e Évora, Revista da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, nº 6, 1992-1993, III Congresso Internacional da Língua Galego-Portuguesa na Galiza, Vigo, 1990.

Cortesia da RevistaFCSH/JDACT