quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Dona Leonor. A Triste Rainha. João Silva Sousa. «Filha de Fernando I, rei de Aragão, e da Sicília, chamado o de Antequera, nasceu em data que se desconhece e veio a tornar-se rainha de Portugal por enlace com o Eloquente»

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…) O Leal Conselheiro é, inclusivamente, um conjunto de curtos trabalhos de agenda que o monarca ia confidenciando a seus papelinhos, entre eles: o conselho que deu ao Infante Henrique quando foi com a armada sobre Tânger; coisas de que foi requerido nas primeiras cortes que fez em Santarém (1433-1434); lembrança acerca dos prémios devidos a certas classes dos seus homens de criação; tratado do bom governo da Justiça e de oficiais dela, escritos em latim; regimento para aprender a jogar as armas; um tratado sobre as valias do pão, conforme o preço do trigo…
Na reunião dos seus conselhos e avisos (livro da Cartuxa), há matérias mais abrangentes, prosaicas, sublinhadas por João José Alves Dias, na sua edição referida acima, como a da História social e História económico-financeira, a da organização feudal, nomeadamente no que diz respeito às relações senhores-súbditos, o que se colhe em capítulos diversos. O 21.º é um dos preciosos documentos sobre como organizar uma expedição guerreira. Quanto à cultura, esta mostra-se também extensa, na parte que está consagrada a traduções do Latim e seus critérios; regras para ler convenientemente um livro: ainda a estilística, a língua e a ortografia. O capítulo 54 indica a composição da biblioteca do soberano, já estudada por Teófilo Braga. Também a música, com abundância de pormenores, é referida num estudo erudito.
Seguem-se aspectos da vida quotidiana, também muito interessantes. Rui Pina diz-nos que o rei mandava registar os conselhos e as coisas que louvava e de que gostava em um seu livro, que consigo sempre trazia, de cousas familiares e especiais. Ao lermos o Leal Conselheiro, ficamos com a noção exacta que um livro como este, sem um plano pré-concebido, foi redigido com tempo, em consecutivas e demoradas análises introspectivas, profundas meditações sobre a vida, pensando, durante muitos anos, nos assuntos da própria obra e nesta mesma, acima de tudo. Foi também o consequente resultado de apontamentos, que ia mostrando e lendo à sua Rainha. Terá sido ela a mola impulsionadora para a publicação do texto, de maneira a tentar fazê-lo curar-se do humor menencorico e da maneira que fui doente, como ele dizia:

da maneira como se devem amar os casados; ou por que os amores fazem mais sentimento no coraçom que outra benquerença, da prudencia, justiça, temperança, fortaleza e as condições que perteencem a boo conselheiro; das virtudes que se requerem a uu boo julgador; dos pecados do coraçom; dos pecados da omissom; da guarda da lealdade em que faz fim todo este trautado.
Começa-se o trautado que se chama Leal Conselheiro […] a requerimento da muito excelente Rainha Dona Leonor: senhora vós me requerestes que juntamente vos mandasse screver alguas cousas que havia scriptas por boo regimento de nossas conciencias e voontades […] ca scripto é.

O Autor fala das virtudes teológicas, da fé, esperança e caridade e das cardeais, prudência, justiça, fortaleza e temperança. A propósito da virtude da fé, defende acaloradamente a Imaculada Conceição de Nossa Senhora por Imagem de sua mãe e a presença de sua mulher.

Filha de Fernando I, rei de Aragão, e da Sicília, chamado o de Antequera, nasceu em data que se desconhece e veio a tornar-se rainha de Portugal por enlace com o Eloquente. Foi seu irmão, Afonso V de Aragão, o Magnânimo, que tratou do contrato, ávido de estabelecer uma sólida aliança entre as casas de Aragão e Navarra e Portugal. O convénio tomou lugar em 1427, na aldeia aragonesa de Olhos Negros, nas proximidades Daroca, sendo o Infante representado por Pedro, arcebispo de Lisboa, Foi recebedora do Príncipe português, como arras, da quantia de 30 000 florins de ouro aragoneses, assegurados em rendas da vila de Santarém; além das terras e rendimentos respectivos que tinham sido pertença de Filipa de Lencastre, morta em 1415, a saber: Alenquer, Sintra, Óbidos, Alvaiázere, Torres Vedras e Torres Novas. E eram famosos os seus vestidos e mantos compridos de arminho, ouro e prata.
Da parte do rei Fernando I teria o dote de 200 000 florins e o mantimento que sempre fora dado às infantas castelhanas que se tinham vindo casar ao País vizinho, mandando transportar burras de ourivesaria rara e de rica pedraria, e escarlatas e sedas, dados os interesses aragoneses na Itália. Em Abril de 1428, partiu dona Leonor de Valência a caminho de Valladolid e de Portugal, celebrando-se a cerimónia, em Coimbra, a 22 de Setembro». In João Silva Sousa, Dona Leonor, A Triste Rainha, FCSHUN de Lisboa,Wikipédia.

Cortesia de Wikipedia/FCSHUNLisboa/JDACT