quinta-feira, 19 de março de 2015

A Favorita do rei Dinis. Vataça. Francisco do Ó Pacheco. «Tornou-se amiga íntima de dona Isabel, que acompanhará para Portugal quando da consumação do casamento de dona Isabel com o rei Dinis, em 1282»

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NOTA:
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«Às vezes as explicações para as coisas que parecem complexas à partida são bem mais simples. Tal como refere a Visitação de dom Jorge de Lencastre, em 1517 existiam no local duas capelas. A que mandara construir dona Betaça.ou dona Vataça Lascaris e a que mandara fazer o almirante das Índias, Vasco da Gama, após a sua épica viagem. E em ambos os locais de culto se venerava a padroeira dos homens do mar. Parece que o almirante pretendia que a capela de dona Vataça ruísse de uma vez por todas e apenas ficasse a nova capela, por si mandada construir. Mas o Mestre da Ordem de Santiago não estava pelos ajustes e na tentativa de impedir que Vasco da Gama construísse o seu palácio em Sines, cujas obras já havia iniciado sem autorização da Ordem, mandou que se reconstruísse a velha capela da princesa grega. O que dá a ideia que a imagem da Santa Padroeira possa ter circulado entre as salas das duas capelas, em função das circunstâncias. Se o almirante ou algum familiar estivesse por perto, as imagens e as devoções seriam na capela nova. Se por perto estivesse o Mestre da Ordem de Santiago ou quem o representasse, o culto far-se-ia na capela velha. E daí a denominação popular de Senhora das Salas, por simplesmente ser uma Santa com liturgias nas duas salas.
Esta terá sido mais uma das guerras pessoais entre Jorge de Lencastre e Vasco da Gama por causa do Senhorio de Sines, uma vez que Vasco da Gama exigia ao rei Manuel I que o fizesse o mais importante fidalgo de Sines, como lhe fora prometido antes da viagem à Índia, enquanto o Mestre da Ordem de Santiago e seu sobrinho o não permitia. Esta disputa pessoal terminaria com a expulsão do Gama de Sines e com o embargo da construção do palácio que o navegador já havia mandado construir. Mas essa é outra história interessantíssima. Certo parece ser a origem do nome da capela, que reside inequivocamente no iminente naufrágio, no desembarque e no salvamento da princesa grega de toda a tripulação da nau em que navegava, perto de Sines, naquele Outono de 1314. Chamemos-lhe pois ermida ou capela de Nossa Senhora das Salvas, a meu ver seu nome original. Aguçada a curiosidade e aceitando o desafio da procura da verdade possível sobre dona Betaça, ou melhor, dona Vataça Lascaris, fui descobrir coisas maravilhosas sobre esta mulher e princesa». In Francisco do Ó Pacheco

«Noite medonha. O astro mudo mal se distinguia por entre rajadas de vento e chuva que pulverizavam a atmosfera com brutalidade indomável. Por todo o lado só existia água como se subitamente os vastos céus se quisessem unir de novo à terra para reiniciar o caos original tal como era antes de Anaxágoras, o filósofo grego do século V a.C. que descobriu o Nous ou a inteligência a que chamou o intelecto motriz que formou o mundo e lhe deu ordem. Como uma pequena folha à deriva, a embarcação que fora apanhada pela tempestade em plenas águas atlânticas era um joguete daquelas forças colossais que ora se levantavam como negras montanhas, que pareciam querer espetar os céus, ora se fechavam em vales aterrorizantes que pareciam tudo querer engolir. Há uma reverência em todos os homens, lobos-do-mar em particular face à majestade da mãe natureza, sobre oceanos e mares, que é uma espécie de êxtase, que vai do puro medo ao deslumbramento e à adoração. Era isso que acontecia ao capitão e à tripulação daquela nau, nessa noite. Perscrutavam a bruma que chicoteava os seus rostos impiedosamente tentando descobrir algum sinal de terra por mais ténue que se manifestasse. Sabiam que tudo estava praticamente perdido e à mercê do pavoroso mar. Esse mar, feroz e traidor, indiferente e sábio, que o experiente capitão grego Diógenes Patrai tinha heroicamente cavalgado toda a sua existência numa ligação promíscua de amor e ódio». In Francisco do Ó Pacheco, Vataça, A Favorita de Dom Dinis, Prime Books, 2013, ISBN 978-989-655-183-4.

Cortesia de PBooks/JDACT