Meeting
[…]
«São justas nossas queixas,
continua
o fogoso orador: heis de sofrer
um inepto governo, que pactua
co'a desonra, e que falta ao seu
dever?
Que batalhas campais dá pela rua
acutilando o povo a seu prazer?
Abaixo ministério tão funesto!
Assinai, cidadãos, este protesto.
E logo se empoleira outro orador
compondo o rosto alvar; e ancho
de si
exclama com prosápia: Salvador
ro rei, da pátria, afirmo agora
aqui,
que
só o meu partido benfeitor
vos trará felicidade... Potosi
é seu, e tem credito bastante
p'ra sair, desta crise,
triunfante.
Sou regenerador, eu digo-o ufano;
o bem do povo é sempre o nosso
alvo;
aborreço o governo que é tirano.
Dos tributos, pranchadas sereis
salvo;
quem comigo votar não tema
engano.
Mas nisto berra alguém: Oh seu
papalvo,
já todos conhecemos vossas
manhas:
O povo não engole tais patranhas.
É falso! Não consinto se pretenda
menoscabar quem tanto se
acrisola;
mormente o bom ministro da
fazenda,
que, macio nos tributos, não
esfola.
Fora! Fora! Seu traste de
encomenda!
Gritou o povoréo, este é
granjola!
E o sucio, por temer as
consequências,
escondeu-se nas mudas
reticências.
Eu sou republicano cá de dentro!
Disse um tal agarrando um
pedregulho.
Fora, Fora!, clamaram lá do
centro.
Crescera a vozearia e o barulho:
ah! Safa, seu canalha, que o
desventro!
Já se cale, ou a boca lhe
atafulho!
Lhe
brada, faca em punho um vil fadista:
acabemos com a raça realista.
Tal quando ronca o mar em
tempestade,
revolvido por grande furacão,
e em montanhas de espuma corre,
invade
ainda a mais alterosa embarcação;
ou quando no aduar em feridade
de assalto abrindo as garras o
leão
percorre a empolgar seu inimigo,
assim o orador se viu em perigo.
[…]
Anónimo, 1881
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