«(…) Esta autonomia é, em parte, um resultado natural da natureza do
trabalho do conhecimento. Como é difícil apurar se os trabalhadores do conhecimento
estão realmente a pensar num determinado momento, os seus supervisores têm de
acreditar na sua palavra. Os resultados do trabalho do conhecimento são
igualmente difíceis de especificar em pormenor; logo, são normalmente deixados
ao cuidado dos trabalhadores. A autonomia também é encarada pelos trabalhadores
do conhecimento como uma troca justa pela educação académica e formação que
receberam. Certos estudos sugerem que os cientistas e os engenheiros encaram a
autonomia no trabalho como a principal razão pela qual eles trabalharam arduamente
na escola e na universidade. E, com uma maior formação, presumivelmente, vem
uma maior capacidade de autogestão. Há diversos domínios diferentes nos quais
os trabalhadores do conhecimento preferem ter autonomia. Em particular no processo
detalhado que seguem no desempenho do seu trabalho. Diga-lhe o que é necessário
fazer e quando é que tem de ser terminado e, se o trabalho for do seu agrado,
eles descobrirão os detalhes. Eles conhecem as circunstâncias em que pensam
melhor. E também gostam de decidir os seus locais de trabalho e horários. Se um
programador informático diz ao chefe que é mais produtivo a trabalhar das 20
horas às quatro horas da manhã, um chefe inteligente tentará facilitar essa
alternativa.
Em grande parte, os trabalhadores do conhecimento conseguem a autonomia
que querem. Como possuem os seus próprios meios produtivos, os cérebros e o
conhecimento, seria difícil para as empresas negar-lhes essa autonomia. As associações
profissionais de trabalhadores do conhecimento também têm resistido a algumas
tentativas de excesso de controlo no local de trabalho. A American Medical
Association por exemplo, luta frequentemente nos tribunais contra os hospitais,
em defesa de uma maior autonomia dos médicos e de outros profissionais da
medicina. Na generalidade, o mercado de trabalho para os trabalhadores do conhecimento
é bom, por isso eles têm tido a capacidade de mudar de emprego em busca de uma
maior autonomia se for necessário. Porém, só porque os trabalhadores do conhecimento
preferem autonomia isso não significa que lhes deve ser atribuída em pleno. Alguns
esforços para melhorar o desempenho do trabalhador do conhecimento podem
significar retirar-lhes alguma autonomia. Mesmo assim, as organizações devem
ter alguma cautela quando implementam um novo processo ou tecnologia que reduza
significativamente a autonomia dos seus trabalhadores do conhecimento.
Especificar os passos detalhados
e o fluxo de processos conhecimento-intensivos é menos importante e mais
difícil do que noutros tipos de trabalho. Este é o corolário da minha
primeira definição genérica de trabalho do conhecimento. Estes não gostam que lhes
seja dito o que fazer, nem gostam de ver os seus empregos reduzidos a uma série
de caixas de texto e setas. Tipicamente, quando queremos melhorar o desempenho,
começamos por desdobrar a estrutura de uma determinada tarefa nos elementos que
a constituem. Tem sido assim desde o tempo de Frederick Taylor, se não antes. A
ideia é: quando desagregados em pequenas
partes, os processos de trabalho do conhecimento podem ser mais facilmente
seguidos e quantificados, ao mesmo tempo que são eliminados os passos desnecessários.
Porém, esta abordagem normalmente não funciona muito bem com o trabalho nem com
os trabalhadores do conhecimento. Seim por experiência própria, que os
trabalhadores do conhecimento resistem frequentemente a terem de descrever os
passos que seguem para cumprirem determinada tarefa. Quanto mais complexo e conhecimento-intensivo for o trabalho,
maior é a probabilidade disso ser verdade. Talvez existam tantas variações que
descrever o fluxo típico de trabalho seja algo impossível. O trabalho do conhecimento
também exige um elevado nível de colaboração iteractiva entre os trabalhadores
do conhecimento, podendo ser difícil de descrever ou de estabelecer um padrão».
In
Profissão. Trabalhador do Conhecimento, Thomas Davenport, 2005, Biblioteca
Exame, Concept Advertising, 2007, ISBN 978-989-612-282-9.
Cortesia Concept Advertising/JDACT