Conforme
o original
Portugal.
Século XV
«(…)
Frente a estes países sangrados por tantas conflagrações, e ao mosaico
balcânico, sempre instável e agitado, surgiu a agressividade fanática e
valorosa dos turcos. Vindos do oriente, instalados há muito na Síria e na Ásia
Menor, em 1356 abordaram o
continente europeu e tomaram Galipoli. Em 1360,
o sultão Amurate I conquistou Andrinopla; o seu sucessor, Bajazet, esmagou em 1389 os sérvios em Kossovo e fez
decapitar o imperador Lázaro. O facto produziu grande impressão no Ocidente.
Levantou-se uma cruzada dirigida por João sem Medo, conde de Nevers, filho do duque
de Borgonha, para corresponder aos apelos insistentes de Sigismundo da Hungria.
Mas Bajazet, graças aos seus velozes e terríveis janissários, surpreendeu e desfez
a coligação em Nicopolis (1396). Continuou Sigismundo a
heróica resistência. Depois da sua morte (1437), Ladislau I, rei da Polónia e
da Hungria, juntou as suas forças, às de João Corvino e conseguiram, numa
contra-ofensiva enérgica, derrotar o invasor em Nissa e expulsá-lo da Sérvia.
Os príncipes gregos e o chefe albanês Scandenberg obtiveram, também,
apreciáveis êxitos. Mas Ladislau sucumbiu em 1414, na planície de Varna. Amurate II, seu vencedor, prosseguiu na
empresa conquistadora, até ser por sua vez morto no ataque a Croia, capital da
Albânia, e o seu exército aniquilado, em Fevereiro de 1451. Outro objectivo atraía o novo sultão, Maomé II; em 1453, pôs cerco a Constantinopla e,
vendida a resistência magnífica de Constantino Paleologo e dos dez mil heróis
sob o seu comando, entrou na velha metrópole bizantina. A cabeça ensanguentada
do imperador Constantino foi exibida na ponta de uma lança turca...
Em
Belgrado, três anos adiante, o sultão foi detido pelas tropas aliadas de João
Corvino e de Capistrano. Vitória de grande alcance, de que resultou, possivelmente,
a salvação da Europa. Corvino não pode explorá-la e invadir a Turquia, como projectava,
porque a morte cortou nesse mesmo ano de 1456
a sua carreira épica. O perigo, todavia, mantém-se. Um a seguir a outro, os
vários papas que ocupam a cadeira de Pedro lançam os seus apelos aos
Chefes da Europa, pregam outra vez a Cruzada contra o Infiel. Assim fazem
Martinho V e Eugénio IV; Nicolau V multiplica-se em esforços ansiosos, tanto mais
que durante o seu pontificado se dá a queda de Constantinopla; Calixto III
segue no mesmo trilho.
Dividida,
tanto na alma como no corpo, a Europa não responde já à chamada de Roma. Parece
ter deixado de existir a respublica
christiana, em que todos os povos e todos os príncipes, fiéis aos
mesmos ideais, se ligavam apenas soasse a grande voz do Pastor Comum. Agora, o
Santo Padre contempla, cheio de angústia, o imenso campo de ruínas. Não
encontra quem lhe dê ouvidos, quem siga a palavra de ordem do representante de
Cristo na Terra. E o Turco bate, ameaçador, infatigável, às portas do Ocidente.
Acabou, de facto, a Idade-Média?
Não existe já qualquer parcela do seu
espírito em recanto algum da Europa?» In João Ameal, Dona Leonor,
Princesa Perfeitíssima, Academia Portuguesa de História, Colecção Rainhas e
Princesas de Portugal, Livraria Tavares Martins, Porto, 1943.
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