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A Autoria
Os projectos do palácio
e da Casa de Câmara e Cadeia são atribuídos ao arquitecto Joaquim Fortunato
Novais pelos historiadores Paulo Varela Gomes e José Manuel Fernandes. Novais,
casapiano desde 1780, foi estudar
para a Academia de Belas-Artes de Roma, a expensas da instituição, em 1785, integrado na primeira leva de
alunos. Aí fica até ao ano de 1791 ou 1794. Fortunato Novais fez
também construções em Vila Nova da Rainha. Morre em 1807, sem deixar registo de quaisquer outros projectos. Horta
Correia e Margarida Calado consideram que este arquitecto, tendo regressado a
Portugal apenas no ano de 1794, terá
participado nas obras mas não terá sido o autor do projecto da nova povoação. Numa
carta, datada de 28 de Março de 1803,
dirigida ao arcebispo-primaz de Braga, o Intendente lista uma série de
artistas, referindo as obras em que trabalhariam na altura e os ordenados que
aufeririam. Nessa lista está Joaquim Fortunato Novais, Architecto civil tem duzentos
mil reis de ordenado. Este está actualmente empregado na construção de hum palácio
e huma Igreja, cuja obra lhe dá a honra pelo gosto, com que vai edificada…. Será esta referência do Intendente
relativa ao seu próprio palácio em Manique do Intendente?
A mesma Margarida Calado
refere que António Lambert Pereira Silva o atribui a José Costa Silva (1747-1819),
que projectou na mesma época o Teatro de São Carlos (com intervenção do
Intendente Pina Manique, recorde-se). Pereira Silva escreve poderá
ter sido José Costa Silva, autor do projecto do Teatro de São Carlos, em
Lisboa, iniciado por diligência de Pina Manique em 1792, os quais mostram certas semelhanças arquitectónicas, revelando
acentuada influência italiana. Este arquitecto começou a sua formação em
Lisboa, estudando com o milanês Carlos Maria Ponzoni (mestre de debuxo no
Colégio dos Nobres) e em 1760,
viajou para Itália, onde continuou o seu tirocínio com Petronio Francelli, após
o que seguiu para Veneza. Aqui estudou com Carlo Bianchoni. Regressou a Portugal
em 1779. Contudo, não existem
quaisquer outras referências que liguem o seu nome a Manique do Intendente. De
referir que este arquitecto foi o autor de um conjunto que englobava área de
residência, hospício para inválidos militares e uma igreja, em Runa,
perto de Torres Vedras. Foi a obra realizada a pedido de dona Maria Francisca
Benedita, que a encomendou em 1792,
tendo as obras prosseguido até 1827.
Este edifício tem a particularidade de apresentar a igreja numa posição
central, acessível por uma galilé.
Sobre esta galilé, no interior,
abre-se uma tribuna a partir da qual se pode assistir aos ofícios religiosos.
De implantação rectangular (456 de frente por 280 palmos de profundidade),
desenvolve-se em quatro alas e três
pisos, tendo dois pátios internos. Frente à construção abre-se um largo onde
desemboca uma alameda com 170 metros, a eixo da Igreja.
Uma Vila Iluminista. A Praça dos
Imperadores
A Praça dos Imperadores,
com uma área de aproximadamente 3800 m2, é uma figura hexagonal, na qual se
inscreve um círculo de 300 palmos, ou seja, a distância entre o centro e o
meio dos lados da praça são 150 palmos (33 m, sendo que a cada palmo
correspondem 22 centímetros). Os lados construídos da praça medem
aproximadamente 142 palmos (cerca de 31 m). Dos seus ângulos
partem seis ruas, conhecendo-se o nome de cinco delas: César, Justiniano,
Augusto, Trajano e Sertório surgem escritos em painéis de azulejos da
época, na fachada lateral das casas que compõem a praça. No seu centro ergue-se
um pelourinho, assente em três degraus hexagonais, cujos ângulos se orientam
aos ângulos do hexágono que constitui a praça. Em 1802 a Praça albergava 18 fogos, correspondendo esse número a três
bandas, de seis casas, erguidas. Sendo que a praça mantém quatro bandas (que
terão albergado 24 fogos) em tudo semelhantes, não é possível saber quando foi
construída a quarta, nem qual o motivo para não ter sido levantada de imediato.
Até um tempo recente, um dos lados da praça, a Sul, manteve-se por erguer, mas
acabou por ser construído o edifício que alberga a Junta de Freguesia. Este,
embora mantenha a mesma implantação das bandas de casas que constituem quatro
dos restantes lados (viam-se mesmo, em tempos recuados e segundo testemunhos
dos habitantes de Manique do Intendente, paredes levantadas nesta zona), tem uma
distribuição de vãos dissemelhante. Aliás, é claro, mesmo numa análise
superficial dos alçados que compõem a praça, que muitos vãos foram alterados, e
alguns entaipados. No que diz respeito ao lado Sudoeste, quatro das
habitações foram demolidas, dando lugar a duas habitações maiores que não
respeitam o plano inicial. Quando se consideram as traseiras, a maioria foi
muito alterada e, em alguns casos, as casas foram ampliadas nesse sentido. O
lado Norte está ocupado pela Casa de Câmara e Cadeia que, pelo menos exteriormente,
não parede ter sofrido alterações no risco primitivo. Relativamente à ocupação
do lado Sul da Praça, embora seja praticamente certo que ali existisse
realmente uma construção, não é possível saber se se tratava de uma banda de casas,
semelhante às outras quatro, ou um edifício com outro tipo de funções. A
posição, oposta à Casa de Câmara e Cadeia, e o facto de não ter sido desde logo
edificada podem apontar nesse sentido». In Cátia Gonçalves Marques, Departamento de
Arquitectura da FCTUC, Junho de 2004.
Cortesia de FCTUC/JDACT