[…]
VII
«Ao
céu regresso.
Quero
dizer
à
terra anoitecida
pelo
amor.
Extasio-me
com
a terrestre vida dos astros.
Passeio
por
uma estrada de estrelas.
Isto
é
uma
estrada de flores sublimadas
pela
noite.
Vou
visitar um estábulo
em
pleno universo.
Zodíaco.
Jardim
zoológico astral.
Lá
estão as constelações
irradiando
o seu frio.
Quero
dizer
os
animais pela memória
desterrados.
Regresso
à noite.
Piso
a escuridão.
Olho
o céu
como
se a terra visse.
As
estrelas são flores.
As
constelações são animais.
O
céu é um jardim
com
um estábulo no meio.
Comem
flores os animais da terra.
Mastigam
estrelas os do céu.
O
céu também é um chão
mas
um chão feito de memória.
Estão
lá os mitos.
Isto
é
homens
elevados
pela
luz e pela palavra.
Pisam-se
lá em cima astros
como
em baixo
se
pisam pedras.
No
céu passo por mitos
e
por ideias.
Estão
lá poemas.
Quero
dizer
coisas
metaforizadas
por
esta outra noite do mundo
íntima
e secreta
que
são as palavras».
VIII
«A
memória é a chave do mundo.
Com
ela faço regredir ou progredir
qualquer
matéria.
Esquecer
é
soltar a manhã.
Quando
a memória arrefece
fica
o céu em pedra.
Uma
ideia
quando
esfria
é
uma cratera aberta.
As
coisas da terra
são
do céu a cinza.
Esquecer
é
materializar os metais.
Uma
pedra é uma estrela
que
a frio secou.
Uma
flor é uma estrela de carne.
Os
metais são sóis
que
nas dobras da terra morrem.
As
jóias são relâmpagos
solidificados.
Os
líquidos fixam-se
e
os fogos secam.
As
pérolas são névoa
condensada
em gotas duras.
As
formas são lume calcinado.
Coisas
opacas e mudas».
[…]
Poema de António Cândido Franco, in ‘Estâncias Reunidas’
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