quinta-feira, 19 de março de 2015

Vataça. A Favorita do rei Dinis. Francisco do Ó Pacheco. «Vataça Lascaris, a que a História de Portugal chamou rainha e princesa da Grécia, nasceu perto de Génova. Quando o pai expulsa toda a família de Ventimiglia, é acolhida, juntamente com a mãe e os irmãos, na corte de Pedro III de Aragão»

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«Da vossa gran fremusura
ond' eu, senhora, atendia
gran ben e grand' alegria
mi vem gran mal sem mesura
e pois ei coita sobeja
praza-vos já que vos veja
no ano ua vez d' un dia».
Poema de Dinis I, rei de Portugal

«(da formosura dela de que esperava (atendia) tantos bens e tantas alegrias (gran bem e grand' alegria), só lhe veio gran mal sem mesura (grandes males sem medida) .E já que de penas de amor (coita) tem o que sobeja, que ela se disponha a permitir-lhe que ele ao menos a veja uma vez por ano)».

NOTA:
«Tudo começou nos anos oitenta do século XX quando o professor Arnaldo Soledade me pediu que atribuísse ao fontanário existente junto à capela de Nossa Senhora das Salvas, na cidade de Sines, o nome de Fonte de Dona Betaça, juntamente com algumas datas marcantes (1282, ano de sua chegada a Portugal; 1755, ano do terramoto que terá feito ruir definitivamente a original capela; 1989, ano da colocação da placa azulejar alusiva). Alguns anos mais tarde enviava-me Arnaldo Soledade um trabalho extraordinário. Nada menos que cópia de parte de um código, que pesquisara e analisara com sangue, suor e lágrimas, como gostava de chamar àqueles dias e noites intermináveis, passados nas poeiras dos arquivos e no meio das velharias literárias. Para os Amigos do Saber, como o velho professor gostava de chamar a quem se interessava pelas coisas do conhecimento histórico e não só, o código a que entusiasticamente se referia estava e está guardado no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, no códice nº 164 da Ordem de Santiago de Espada. Tratava-se do texto da Visitação de D. Jorge de Lencastre a Sines em 1517, ou seja, a descrição dos bens régios, clericais e particulares existentes e inspeccionados no concelho, àquela data. Uma espécie de inventário geral concelhio, realizado pelos homens da poderosa Ordem de Santiago de Espada, reflectindo as realidades económicas, sociais e humanas de Sines em 1517. Um texto importantíssimo que li avidamente e onde fui reencontrar, uma outra referência a dona Betaça. Diz a Visitação de D. Jorge de Lencastre, filho bastardo do rei João II e Mestre da Ordem de Santiago de Espada, sobre a ermida de Nossa Senhora das Salas: … porque esta ermida de Nossa Senhora das Sallas foi edificada no tempo em que a rainha dona Betaça da Grécia aqui desembarcou, e foi ela que fez a dita ermida, onde Nosso Senhor tem feitos e faz muitos milagres, e será sem razão e coisa escandalosa ver-se desfazer a dita casa do lugar em que está. Por isso e por esta Visitação ordenamos e mandamos que a dita casa fique para sempre onde está e não se mude dali. E mandamos aos mordomos e confrades da dita casa que a façam mais comprida, assim como era dantes, e alevantem e rasguem uma janela de fronte ao mar obra que agora encomendamos e rogamos para que o façam o mais cedo que poderem, por ser casa de muita devoção... e dentro da dita ermida está uma fonte de água (no texto fomte daguoa nudjuel). Não muito tempo antes do acima referido o incansável professor Soledade trouxera-me outra marcante revelação: Descobrira uma segunda Carta de Foral de Sines anterior ao foral de Manuel I de 1512, que se encontrava guardado no cofre da Tesouraria Municipal. E ele tinha-a em seu poder. Era de 1362, mais concretamente de 24 de Novembro desse ano, e estava assinada por el-rei Pedro I, neto de Dinis I e filho de Afonso IV. Ora Pedro havia nascido em Coimbra em 1320 e certamente tinha sido recebido com enorme alegria por toda a corte e especialmente pelos seus avós, Dinis e Isabel, e pela princesa favorita Vataça Lascaris. Pedro só seria rei de Portugal após a morte de seu pai Afonso IV, em 1357, e muito certamente, terá visitado, após a morte do avô Dinis em 1325, por várias vezes, o Paço de sua avó em Coimbra, no Convento de Santa Clara, e juntamente com a antiga rainha, o Paço de S. Romão de Panóias de Vataça Lascaris e o castelo de Santiago do Cacém, sede da comenda. E nestas suas deslocações com sua avó Isabel a Santiago do Cacém não custa acreditar que se tenha deslocado a Sines onde visitava a capela de Nossa Senhora das Salvas e passeava de barco com os pescadores locais. Era portanto seguro que dona Betaça ou Vataça Lascaris estivera em Sines no primeiro quartel do século XIV e mandara construir a primitiva capela em honra de Nossa Senhora das Salvas, a qual, dois séculos depois, em 1517, era conhecida por capela de Nossa Senhora das Salas. Porquê? Que razões terão presidido a esta alteração de Salvas para Salas? O mistério permanece porque nenhum historiador até ao presente deu cabal explicação. Incluindo aquele que mais aprofundadamente estudou o concelho de Sines e sobre ele escreveu, o
próprio Arnaldo Soledade». In Francisco do Ó Pacheco, Vataça, A Favorita de Dom Dinis, Prime Books, 2013, ISBN 978-989-655-183-4.

Cortesia de PBooks/JDACT