Cosmocópula
«Membro a pino
dia é macho
submarino
é entre coxas
teu mergulho
vício de ostras.
dia é macho
submarino
é entre coxas
teu mergulho
vício de ostras.
II
O corpo é praia
a boca é a
nascente
e é na vulva que
a areia é mais sedenta
poro a poro vou
sendo o curso de
água
da tua língua
demasiada e
lenta
dentes e unhas
rebentam como
pinhas
de carnívoras plantas
te é meu ventre
abro-te as coxas e
deixo-te crescer
duro e cheiroso como o
aloendro»
a boca é a
nascente
e é na vulva que
a areia é mais sedenta
poro a poro vou
sendo o curso de
água
da tua língua
demasiada e
lenta
dentes e unhas
rebentam como
pinhas
de carnívoras plantas
te é meu ventre
abro-te as coxas e
deixo-te crescer
duro e cheiroso como o
aloendro»
Natália
Correia, in ‘Antologia
de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, 1966’
O poeta e as víboras
«Baile de corpos intermédios
com luas mortas nos braços
sem desenlace e sem consequência.
Dança da solidão de mim e de outros
comigo no centro ignorada.
Bailado das palavras
com suportes de morte imediata.
Rio sem águas e sem fundo
com margem numa boca emudecida.
Silvo de serpentes que rastejam
famintas para o vértice da vida
onde me aparto de cansaços inúteis.
«Baile de corpos intermédios
com luas mortas nos braços
sem desenlace e sem consequência.
Dança da solidão de mim e de outros
comigo no centro ignorada.
Bailado das palavras
com suportes de morte imediata.
Rio sem águas e sem fundo
com margem numa boca emudecida.
Silvo de serpentes que rastejam
famintas para o vértice da vida
onde me aparto de cansaços inúteis.
Natália Correia, in ‘Biografia,
segunda parte de Poemas, 1955’