O Casal
«Apagam a luz e o globo branco
brilha
um instante e, depois, dissolve-se,
como um comprimido
num copo de escuridão. Depois,
aumenta.
As paredes do hotel disparam para a
escuridão do céu.
Os seus movimentos tornaram-se mais
suaves e dormem,
mas os seus pensamentos mais
secretos começam a encontrar-se
como duas cores que se encontram e
escorrem juntas
sobre o papel molhado de uma
pintura de um menino de escola.
Está escuro e silencioso. A cidade,
contudo, aproximou-se
esta noite. Com as suas janelas
desligadas. Vieram casas.
Mantêm-se juntas e muito perto,
esperando,
uma multidão de gente de rostos
brancos».
Depois de uma Morte
«Uma vez foi um choque,
que deixou para trás uma longa e
cintilante cauda de cometa.
Mantém-nos dentro de casa. Torna
nevada a imagem da TV.
Aquieta-se em gotas frias sobre os
fios de telefone.
Pode-se ainda ir de skis devagar
sob o sol de inverno
através de arbustos onde algumas
folhas se demoram.
Parecem páginas arrancadas de velhas
listas telefónicas.
Nomes engolidos pelo frio.
É ainda maravilhoso sentir o
coração a bater,
mas a sombra parece muitas vezes
mais real que o corpo.
O samurai parece insignificante
por trás da armadura de escamas do
dragão negro.
Tomas Tranströmer (1931-2015), ’20 Poemas’
Tradução do inglês de Maria
Catela
JDACT