terça-feira, 31 de março de 2015

Poesia no 31. Nobel de 2011. Tomas Tranströmer (1931-2015). «A renúncia é a libertação. Não querer é poder. A liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo. Primeiro sê livre, depois pede a liberdade»

jdact e wikipedia

O Casal
«Apagam a luz e o globo branco brilha
um instante e, depois, dissolve-se, como um comprimido
num copo de escuridão. Depois, aumenta.
As paredes do hotel disparam para a escuridão do céu.

Os seus movimentos tornaram-se mais suaves e dormem,
mas os seus pensamentos mais secretos começam a encontrar-se
como duas cores que se encontram e escorrem juntas
sobre o papel molhado de uma pintura de um menino de escola.

Está escuro e silencioso. A cidade, contudo, aproximou-se
esta noite. Com as suas janelas desligadas. Vieram casas.
Mantêm-se juntas e muito perto, esperando,
uma multidão de gente de rostos brancos».


Depois de uma Morte
«Uma vez foi um choque,
que deixou para trás uma longa e cintilante cauda de cometa.
Mantém-nos dentro de casa. Torna nevada a imagem da TV.
Aquieta-se em gotas frias sobre os fios de telefone.

Pode-se ainda ir de skis devagar sob o sol de inverno
através de arbustos onde algumas folhas se demoram.
Parecem páginas arrancadas de velhas listas telefónicas.
Nomes engolidos pelo frio.

É ainda maravilhoso sentir o coração a bater,
mas a sombra parece muitas vezes mais real que o corpo.
O samurai parece insignificante
por trás da armadura de escamas do dragão negro.
Tomas Tranströmer (1931-2015), ’20 Poemas’
Tradução do inglês de Maria Catela

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