A
Atlântida Existiu?
«Existiu,
realmente, a Atlântida ou, pelo contrário, deve-se tal hipótese a uma fantasia
de Platão, expressa nas suas duas obras Timéa e Critias? Era um país, diz o grande filósofo, que
ficava situado além das colunas de Hércules (isto é, do moderno estreito de
Gibraltar até às ilhas de Cabo Verde). Essa ilha era mais vasta do que a Líbia
e a Ásia reunidas, e os navegantes passavam dela para outras ilhas e destas
para o continente que borda esse mar. Referia-se evidentemente à América. Num
outro passo, o fundador da famosa Academia grega acrescenta: Nessa ilha, Atlântida, os reis tinham
formado uma grande ,e maravilhosa potência, que a dominava por inteiro e a muitas
outras, estendendo-se, também, até certa parte do continente. Além disso, nas
nossas terras, aquém do estreito, eram senhores da Líbia até ao Egipto e da
Europa até Tirrenaica. Tais reis teriam feito, em tempos remotíssimos, guerra
contra Atenas. O seu povo, além do mais, teria atingido elevada civilização.
Mas, enquanto uns acreditam na existência do celebrado continente, outros
põem-na em dúvida.
Inegavelmente,
a maioria dos sábios está de acordo em que um dos numerosos cataclismos que
revolucionaram o Globo terrestre fez desaparecer por submersão o lendário
império. A sua localização seria precisamente onde hoje se estende o tapete
quase infindável das águas do Atlântico. Os arquipélagos da Madeira e dos
Açores, segundo essa teoria, seriam os restos, os picos mais elevados da
Atlântida, que, pela sua grandiosa altura, as águas oceânicas não puderam
cobrir. Outros, porém, e não menos ilustres e não com menores razões, situam o continente desaparecido no maciço de
Hogar, a região do Norte de África onde um laureado escritor francês, Pierre
Benoit, fez desenvolver a acção do seu romance Atlântida. Realmente, cuidadosas observações geográficas e
geológicas efectuadas por sábios eminentes permitiram que se chegasse a
verificações impressionantes. Uma destas é a de que, entre os materiais empregados
na construção das famosas pirâmides egípcias, um figura de que há abundância na
América do Sul.
Por outro lado, os ídolos dos Astecas têm
espantosa semelhança com os do antigo Egipto. Finalmente, não se sabe, nem pela
civilização grega nem pela romana, a origem da indústria do bronze, indústria
que as tradições afirmam ter sido introduzida no mundo antigo por um povo do
Ocidente. Que povo poderia ser este senão o dos Atlantes? Há ainda
estudiosos que colocam a Atlântida na Escandinávia, como Rudbeck; na Pérsia, e
é o caso de Latreille; ou até na Mongólia, segundo Bailly, e tantos, tantos se
têm pronunciado sobre o palpitante assunto que seria longo enumerá-los. Tal
divergência de opiniões levou alguns a admitirem tratar-se de simples lenda o
hipotético continente, tanto mais que, dos antigos, Plínio e Estrabão se
limitam a aceitar sem comentários a descrição dos Diálogos de Platão. No entanto, também dos antigos, Deodoro
Siculo tem opiniões próprias sobre a questão. Geógrafo e historiador, ele explica que a causa da submersão da
Atlântida se deve a ruptura de Gibraltar e relativa invasão do Atlântico,
elevando o nível deste e submergindo o aludido continente. Portanto, uma
enorme massa de água do Mediterrâneo projectou-se violentamente sobre o Oceano Atlântico,
originando a submersão do antigo continente, que outrora quase ligava a África
à América. Afirma também que, como consequência desse fenómeno, o deserto do
Saara, até então um grande lago, viu as suas águas escoarem-se para o Oceano Atlântico.
O actual deserto de Saara não passaria, desta forma, de leito de um grande lago
antigo». In Américo Faria, Dez Enigmas no Mar, Livraria Clássica Editora,
colecção Dez, Lisboa, 1959.
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