Meeting
[…]
«Vão anchos, vão alegres na
esp'rança
dum futuro feliz, que os seus
tribunos
lhes prometem de ha muito. Essa
aliança
da justiça e poder, fins
oportunos
que á força popular lhes afiança
o livrá-los das unhas dos
gatunos,
que roubando a nação se fazem
nobres,
vampiros
a chupar o sangue aos pobres.
É
grande a multidão ali trazida:
alguns por curiosos se conduzem,
a outros a cobiça mais convida,
que muitos com promessas se
reduzem;
e quantos com a mente prevenida
de utopias, que o animo seduzem,
com a grata ilusão de vir a ser
povo e rei de si mesmo no poder.
Suspenso vê-se á porta da taberna
um ramo de loureiro; mais em
baixo
por símbolo pintaram-lhe uma
perna
e um letreiro: Bom vinho do Cartaxo,
peixe
frito, e as iscas á moderna;
e de copo na mão vê se um
borracho
apontando p'ra a quinta, onde em
devesas
lá sob os parreirais estão as
mesas.
A gente á porta embica num
montão,
inquieta formigando num bulício,
como em dia de roda ao Campeão
concorre por esperar o benefício
duma sorte feliz, dum alegrão.
Assim acode ali, e no comício
apanha, triste sorte, muita
chuva,
muita
parra, coitada, e pouca uva.
Escolhem de entre a turda
incontinente
um quidam considerado dos mais
doutos,
que
ocupando o lugar de presidente
ao sentar-se salvou com três
arrotos;
e com voz mal toada,
intermitente,
vai falando, e cuspindo
perdigotos;
assim empertigado estende a mão:
Eu
abro, meus senhores, a sessão.
E logo sobre um banco alevantado
um homem vocifera, gesticula,
os ministros ataca, e de zangado,
em verrina, que mais descamba em
chula,
invectiva o imposto, e o tratado
que aprovara das cortes a matula.
Embora, oh! Pátria minha, lutes,
arques;
não consintas vender Lourenço
Marques!
[…]
Anónimo, 1881
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